quinta-feira, dezembro 11, 2008

Não sou corintiano


Fucei, procurei, mas não consegui nada muito concreto. O John Lade abaixo mencionado era um “corinthian”, assim como o seu amigo o Príncipe de Gales que virou o rei George IV, depois de um período de regência durante a doença mental do seu pai, o George III. Existe até uma obra sobre este George IV chamada “The Great Corinthian”. Não sei ao certo se houve de fato um primeiro clube Corinthians no século XVIII ou não, mas parece que é certo que enquanto se preparava a Revolução Francesa, os jovens nobres ingleses dissolutos se aplicavam nos esportes, como o box, o turfe, a esgrima, a caça, o cricket, e também, ao reverso da moeda, em apostas, jogos de azar, bebida e mulheres. E, por algum motivo que eu não sei qual é, se intitularam “sportsmen” e “corinthians”. Parece que há alguma ligação com o fato da antiga Corinto grega ter uma certa fama. O fato é que a expressão “corinthian” assumiu o significado do ideal amador do esporte, e assim aparece na crônica londrina do período da regência, sempre para identificar um nobre esportista. Nessa época surgiram os personagens de Pierce Egan, que fizeram muito sucesso, “Tom and Jerry” (expressão que virou sinônimo de confusão), ou melhor, Corinthian Tom e Jerry Hawthorn, em “Life in London or The Day and Night Scenes of Jerry Hawthorn Esq. and his Elegant Friend Corinthian Tom”, certamente os avós literários do gato e rato do desenho animado. Há uma referência mais antiga em Shakespeare, “I am no proud Jack, like Falstaff; but a Corinthian, a lad of mettle, a good boy.” — Henry IV., ii. 4”, que deve estar na origem de tudo, significando um cara durão e legal, eu acho. Com a popularização da expressão e o seu significado de ideal esportivo centenas de clubes foram criados no mundo inteiro, particularmente clubes de vela, e especialmente, o famoso clube de futebol inglês, de elevado padrão ético, que em passagem por aqui inspirou a criação do famoso clube paulista de nobre origem operária. O engraçado é que o nome "Corinthians" significa "corintianos".

quinta-feira, novembro 27, 2008

Lady Lade



A mulher neste retrato é Lady Lade, nascida, segundo algumas fontes internéticas e inseguras Smith, segundo outras, na improvável família Derby. Improvável porque, como se vê na pintura, o negócio da moça era mesmo cavalo. Maneja as quatro rédeas com tranqüilidade – não entendo nada de equitação, mas imagino serem duas para o freio, e duas para o bridão, para controlar cavalos difíceis – com postura perfeita, montada em um cilhão, ou seja, o arreio do tempo em que não ficava bem para uma dama abrir as pernas em público, nem em cima de um cavalo. Nota-se também que o cavalo, por própria indocilidade ou exibicionismo da amazona, empina sobre as patas traseiras, indicando que o artista pretendeu salientar as virtudes eqüestres da retratada.

É um quadro encomendado pelo então Príncipe de Gales, no século XVIII, que veio a ser o rei George IV da Inglaterra, a George Stubbs, um especialista em pinturas eqüestres. Ao que consta, o retrato sempre foi pouco visto, pois nas últimas centenas de anos esteve pendurado em uma das mais recônditas câmaras do Castelo de Windsor.

Conhecendo a história da ginete, fica fácil imaginar o porquê. Nascida no seio magro da “working class”, biógrafos (eufemistas talvez) dizem que ela trabalhou como “servant” em um bordel, mas o fato dela ser jovem, bonita, mal nascida e morando em um lupanar nos autoriza a imaginar que provavelmente a futura amiga do rei tenha recebido alguns presentes em retribuição a favores sexuais.

Quem a tirou daquele lugar foi o lendário criminoso salteador de estradas (highwayman), John “Sixteen String Jack” Rann. O apelido entre aspas é porque o dândi se vestia de maneira extravagante e exuberante. Como assaltante, era um craque nos cavalos e veículos de tração eqüina, habilidades que transmitiu à namorada. Quando foi preso e enforcado em 1774, Laetitia Smith ou Derby tornou-se amante do Duque de York e algum tempo depois, do milionário Sir John Lade, seduzido por sua perícia eqüestre, com quem veio a se casar, sob protestos da sociedade e da família, em 1787.

Sir John era um estróina, pródigo, perdulário, gastador, viciado em corridas de cavalos, que dissipou toda a sua imensa fortuna futilmente, enfim, um genuíno e pioneiro “sportsman” britânico, de quem se cogita uma ligação com o famoso salteador nos negócios de cavalo, ele próprio um ousado ginete colecionador de façanhas. Daí a sua proximidade com o Príncipe de Gales, também aficcionado do turfe. A histórica fofoca prossegue com a insinuação de que o futuro rei arrastava uma asa real para a moça, proibida por ser mulher do amigo (será?), daí a encomenda do retrato. E Laetitia se destacava na turma, que tinha o mau hábito de tirar perigosos rachas, montados ou pilotando poderosos carros de quatro cavalos, nos locais mais inconvenientes.

Figura interessantíssima, não é? Pra apimentar um pouco mais a história, podemos imaginar que Laetitia e o salteador John Rann, com suas extravagantes indumentárias, fossem a mesma pessoa, e tenham enforcado alguém no seu lugar para que ela pudesse livremente flanar com o Duque de York, Sir John Lade, e sua majestade.

segunda-feira, novembro 24, 2008

Uma história pra contar


Como dizem os esportistas, uns voltam com a medalha, outros com uma história pra contar. Sábado fiz a minha melhor prova, um tempo ótimo, mas não tive lá muita sorte. Meu contato em Porto Alegre, que ficou de arrumar o barco, não conseguiu nada até o fim da tarde da véspera. Acabei conseguindo um legal de um clube daqui, que ia usar um barco do meu clube pra outra prova. Mas só deu pra dar uma voltinha, com um vento infernal, sem poder regular nada. Na hora da largada, no dia seguinte, cheguei na cabeceira da raia e tinha partidor pra todos menos pra mim, porque haviam instalado errado e um dos partidores estava na raia de retorno. Havia um forte vento lateral e fui muito prejudicado, já que todos tinham gente para segurar o barco menos eu. Larguei em último, com o juiz na lancha gritando pra eu me afastar dos outros barcos, me ameaçando de desclassificação, quando na verdade os outros que estavam vindo pra cima de mim (lá não tem balizamento), o que me atrapalhou um pouco. Deixei estes dois barcos pra trás, e quando vi estava emparelhado com o terceiro, que vinha pelo lado oposto da raia, no lado protegido do vento, perto dos clubes. Fui olhar de novo só quando estava já ouvindo a gritaria do público, lá no final, e ele estava do meu lado (segundo meu time, eu estava um pouco à frente), e remei forte até o final, com a impressão de ter chegado na frente. Cheguei na premiação depois, pois estava lá no meio do canal, na raia de fora, e ouvi que o terceiro havia sido o cara. Depois saíram os tempos e o meu era menos de 1 segundo atrás do cara (3'52"6 e ele 3'51"7). Na outra bateria da minha classe, que veio logo na seqüência, meu tempo daria o segundo lugar. Pena.

segunda-feira, novembro 17, 2008

Segundo








quarta-feira, outubro 22, 2008

Samuel Pallache


Foi na casa dele que a Maria Nunes Pereira foi trabalhar quando chegou em Amsterdam. E foi o grande patrocinador da primeira sinagoga daquela cidade, fundada em 1598, ano do registro do casamento da Maria, e o mesmo ano em que Grócio se doutorou na Universidade de Orleans, aos 15 anos.

Segundo o verbete da Wikipedia, Samuel Pallache intermediou um acordo de mútua assistência Holanda-Marrocos contra a Espanha com Maurício de Nassau, encontrando o príncipe em Haia em 23 de junho de 1608, (um ano antes da trégua e da publicação do Mare Liberum), tratado assinado em 24 de dezembro de 1610. Nassau mexendo os seus pauzinhos. Depois se descobriu que Pallache era agente duplo, e também atuava em favor da Espanha. Nassau lhe outorgou licença de corso e ele capturava os seus naviozinhos portugueses, sustentado pelo parecer do Grócio. Pena que todas as fontes do verbete estão em dutch. Mas há um livro inteiro escrito sobre esta interessantíssima figura.

Maria Nunes Pereira e Hugo Grócio poderiam ter se conhecido na casa de Pallache.

terça-feira, outubro 21, 2008

Oldenbarnevelt


“In January 1609, Grotius attended a series of three-way meetings in The Hague between Oldenbarnevelt, the VOC directors and members of de Dutch Admiralty Board. He was invited on the basis of hes credentials as VOC lobbyst, not in his official capacity as Advocate-Fiscal of Holland. Oldenbarnevelt had called the meetings to discuss the implications of a Truce treaty for the VOC and, more importantly, to reassure its directors that they could continue to 'borrow' warships, guns and ammunition from the Dutch Admiralty Board." (Martine Julia van Ittersum, "Preparing Mare Liberum for the press: How Hugo Grotius Rewrote Chapter 12 of De Jure Praedae, November 1608 - February 1609.").

É uma nota de rodapé de um artigo recente dessa Martine, uma historiadora holandesa. VOC é a Companhia Holandesa das Índias Orientais, a cliente do Hugo, para quem escreveu o De Jure Praedae, do qual o Mare Liberum é o capítulo 12, a fim de justificar a captura da nau portuguesa Santa Catarina (um monstro de 1400 toneladas, com 700 pessoas a bordo), no estreito de Singapura, em 1603.

No mesmo artigo ela conta que a trégua entre Holanda e Espanha (Felipe III na época era o rei também de Portugal) seria arbitrada pelo rei da França e o rei da Inglaterra, e havia a possibilidade real das atividades da VOC serem afetadas pelas negociações. O propósito inicial do trabalho era obter uma sentença favorável no tribunal do almirantado a respeito da legitimidade do butim, e persuadir acionistas protestantes e sisudos preocupados com a honestidade da façanha a aceitá-la como justa. Obtida a decisão e confortados os acionistas, com a evolução das negociações da trégua a VOC passou a instar Hugo a publicar o capítulo 12, a fim de manipular a opinião pública e os intermediários da trégua, para que o tratado não impedisse suas atividades na Ásia. Só que o negociador da trégua pela Holanda era o Oldenbarnevelt (um nome super legal), o chefe do Grócio na carreira pública, que entendeu que a divulgação do Mare Liberum seria nociva às negociações, e mandou o Grócio adiar a publicação até a assinatura (em abril de 1609), e expurgá-la de referências à América e abrandar os termos ofensivos à Espanha e Portual. Em compensação, excluiu da trégua as operações bélicas da VOC na Ásia (“privateering”, embarcações militares privadas comissionadas pelo governo holandês), atendendo assim aos interesses da Companhia. Quem saiu perdendo foi o Maurício de Nassau, que era o comandante militar da Holanda e tinha o seu poder e prestígio dependentes da guerra, e depois veio pegar o Grócio na curva.

Certamente podemos imaginar a heróica Pereira nas reuniões da VOC com Oldenbarnevelt, ou melhor ainda, em uma reunião secreta do Oldenbarnevelt (adoro esse nome), Jeannin (o representante da França) e Wotton (da Inglaterra), para negociar a emenda secreta ao tratado de trégua que garantiu os interesses da VOC.

sexta-feira, outubro 17, 2008

A reta razão



Parece que o Grócio foi muito feliz com seu casamento arranjado, e a sua mulher desempenhou um importantíssimo papel quando o jurista foi preso por Maurício de Nassau, no castelo de Loevestein. Ele obteve do seu ex-cliente permissão para receber livros, que eram transportados em um baú, e numa dessas idas e vindas, em um momento que que a rotina fez relaxar a vigilância, sua esposa Maria Reigersberg fez furos disfarçados no baú, nele introduzindo Hugo, que conseguiu fugir para a França.

O seu gosto pela polêmica, pela defesa de posições perigosas e minoritárias, o habilita à parceria com a heróica Pereira. Dizem que, ainda adolescente, converteu a mãe ao protestantismo porque ela seria inteligente demais para ser papista, o que mostra o seu respeito pela inteligência feminina, talvez incomum para a época (o respeito, não a inteligência, é claro).

E no “De jure belli ac pacis” não considera justa a guerra religiosa: “a melhor razão em favor da opinião que nega que tais guerras sejam justas é aquela que Deus basta para punir as faltas que se cometem contra Ele”, argumento suficiente para derrubar a Inquisição e seus processos, caso fossem suscetíveis à reta razão.

quinta-feira, outubro 16, 2008

Porque não?



A Maria Nunes Pereira, forçada a se mudar para os Países Baixos em busca de liberdade religiosa, poderia, por uma reviravolta do destino, ter conhecido Hugo Grócio, Huig de Groot, ou Grotius, um dos pais do direito internacional e do direito natural, de quem poderia ter se tornado protegida. Talvez ele se encantasse com a sua brilhante inteligência e assustadora beleza e a tomasse como assistente. Grócio estaria escrevendo o capítulo da sua obra sobre o direito ao butim, por encomenda da Companhia Holandesa das Índias Orientais, e a Pereira, conhecedora da obra dos escolásticos ibéricos, como Francisco de Vitória, que teria estudado antes da fuga para tentar uma eventual defesa frente a inquisição, que rapidamente perceberia inútil, auxiliaria o mestre a derrubar os argumentos de tratados como Tordesilhas, que estabeleciam privilégios marítimos e territoriais às potências ibéricas, utilizando os argumentos dos próprios juristas ibéricos, desenvolvidos para tentar justificar catolicamente a conquista e subjugação dos gentios dentro de certos limites.

Por uma outra reviravolta do destino, a Pereira seria incumbida de entregar o manuscrito que iria mudar o mundo em uma reunião de reis com o papa, ou no mínimo com altíssimos dignatários, talvez por ser necessário um portador com condições de discutir o trabalho, ante um súbito impedimento de Grócio.

quarta-feira, outubro 15, 2008

A heróica Pereira


(http://www.esnoga.com/)

“Os criptojudeus de Portugal sentiram então, em toda a sua plenitude, a tirania espanhola e nenhum perigo era considerado demasiado em se tratando de fugir do País e procurar liberdade e tolerância em outro canto da terra.

Uma corajosa mulher portuguesa, Mayor Rodrigues, com seu marido Gaspar Lopes Homem, seus filhos Manuel e Antônio Lopes Pereira e suas filhas Maria Nunes e Justa Lopes Pereira, prepararam-se para emigrar no ano de 1590. Os irmãos Manuel e Maria, esta de rara beleza, embarcaram com seu tio Miguel Lopes, com destino à Holanda. Durante a viagem foram capturados por um navio inglês que perseguia os que navegavam sob a bandeira hispano-portuguesa e levados prisioneiros para Londres. A beleza de Maria seduziu o capitão do navio, um duque inglês, a ponto de pedir-lhe a mão em casamento. As relações da bela portuguesa com o duque chegaram aos ouvidos da Rainha Elisabeth que ordenou que lhe trouxessem Maria, a qual tratou com especial consideração: levou-a de carruagem pelas ruas da capital a fim de que os habitantes pudessem ver esta deslumbrante beleza. Maria não deu importância a tais honrarias, não deu atenção aos insistentes pedidos de sua majestade, nem às ofertas honrosas do duque: apenas pediu sua liberdade. Deixou a Inglaterra e, com seus parentes, lançou, por assim dizer, o fundamento da grande comunidade de Amsterdão.” (Kayserling, História dos judeus em Portugal).

Pode ser verdade.

Li em outra fonte que logo ao chegar em Amsterdam, ela e outros criptojudeus tiveram sua cultura religiosa restaurada por um rabino ashkenazem, incluindo a circuncisão dos adultos, e foram trabalhar na casa de Don Samuel Pallache, um famoso espanhol sefaradi embaixador do imperador do Marrocos, agente duplo entre Espanha e Países Baixos, e corsário no Índico. O registro do casamento de Maria é de 1598, ano em que se iniciaram as atividades da sinagoga de Amsterdam.

sexta-feira, outubro 10, 2008

Poderoso timão


Crise mundial global total. O negócio é manter a calma e continuar remando.