sexta-feira, abril 28, 2006

Guaíba



Vou viajar 1100 quilômetros pra remar duas ou três vezes pouco mais de três minutos, do lado esquerdo dessa Ilha do Pavão, no Delta do Guaíba, em Porto Alegre.

quarta-feira, abril 26, 2006

Rei do terreiro

Uma coisa me intriga. Porque, ainda hoje, nesses tempos civilizados, ainda tentamos nos impor pela atitude física, a postura, a entonação, a tergiversação, os gestos, os olhos, enfim, o jogo de cena do galinho no terreiro? Mesmo em situações em que a violência real não é possível, tentamos intimidar, intimidamos e somos intimidados, como se houvesse risco ao corpo. Somos racionais só por escrito?

Ontem à noite, chegando num sinal para cruzar uma grande avenida, vi um carro uns cinqüenta metros na minha frente desperdiçar a luz verde e estacionar junto ao meio-fio. Parei na faixa oposta, e vi do que se tratava. Um sujeito desceu de seu carrão para encrencar com o flanelinha que tinha vindo lavar o vidro do seu carro com a água suja e o rodinho. Eu de vidro filmado e fechado, ouvindo música, não ouvia o que diziam. Mas durante todo o longo tempo do semáforo, e até eu ir embora ao abrir, os dois ficaram se empombando, vendo quem intimidava quem. Fiquei imaginando que o sujeito do carro devia ter tido um dia ruim no trabalho e estava descontando no flanelinha, que era grande e mal-encarado.

terça-feira, abril 25, 2006

Kong




















Vi ontem o longo King Kong e gostei muito. Achei o personagem cineasta do Jack Black, pra mim inspirado no Orson Welles, um pouco histriônico. As longas seqüências de perseguições de monstros também me aborreceram, apesar de muito bem feitas. Mas é uma linda fábula e está muito bem contada. A exploração comercial da tensão entre a beleza e o desejo. A dificuldade da contenção do instinto animal que habita em nós, quando provocado pela visão da beleza. A luta entre o social civilizado e o indivíduo bestial, e como o bem e o mal, o útil e o nocivo, o inocente e o perverso atuam misturados nas duas pontas. A Naomi Watts está excelente como pureza estereotipada. Lamentei não ter visto no cinema.

segunda-feira, abril 24, 2006

Assento ejetável

Vi “Estrela Solitária” (Don’t come knocking) do Wim Wenders com o Sam Shepard, o autor da história e do roteiro. Conto só a primeira cena, que imagino a idéia tenha sido tão sedutora a ponto de gerar todo o filme. Um ator já velhão, todo paramentado como cowboy de cinema, monta no seu belo cavalo ator, muito bem arreado, e simplesmente sai do set em Monument Valley ou coisa que o valha, abandonando as filmagens com destino ignorado. É o conceito do assento ejetável. Quem nunca pensou e largar tudo e ir morar no litoral da Bahia, abrir um boteco ou viver de um aluguelzinho, de papo pro ar. Quando eu era moleque achava que isso sempre seria possível. Casei pensando isso, virei profissional pensando nisso. Mas na verdade vamos nos enredando nessa trama de vínculos e responsabilidades de tal forma que apertar o botão implica arrancar um pouco de pele de muita gente. É uma operação perigosa, que só deve ser tomada quando o avião já está perdido, como única alternativa.

quinta-feira, abril 20, 2006

Abundância

Sua casa encontra-se na abundância. Ele voa pelas fronteiras do céu. Ele esconde sua família, espreita através do portão e já não percebe mais ninguém. Durante três anos não vê mais nada. Ele se esconde. Por sua arrogância e obstinação, atinge o oposto do que anseia. Deseja a todo custo ser o senhor absoluto em sua casa, mas isto o afasta de sua própria família a tal ponto que, ao final, ele se vê completamente só. Cai numa situação desesperada e solitária pela qual ele próprio é o único responsável.

quarta-feira, abril 19, 2006

segunda-feira, abril 17, 2006

Dogtown

Vi ontem o “Lords of Dogtown”, a história da turma que revolucionou o uso do skateboard em Venice Beach, Califórnia, em 75/76. Mexeu tanto comigo que sonhei que estava comprando um, longboard. O primeiro skate que eu vi na minha vida foi o meu. Minha mãe me trouxe um Hobie da Califórnia, em 1972, muito bonito e bem acabado. Minha única referência era alguma série antiga de tv, que tinha mostrado alguém andando com um pé reto para frente, e o de trás atravessado, andado pelas calçadas. Jamais me ocorreu me jogar ladeira abaixo com aquilo, simulando manobras do surfe. Uns dois ou três anos depois teve a primeira grande onda de skate por aqui, a minha pranchinha já estava com as rodas gastas, e era bem menor do que as que se usavam então. Íamos a uma fábrica de patins que havia na Barra Funda, a Torlay, onde comprávamos os eixos, que adaptávamos a pranchas improvisadas. Descíamos ladeiras em bairros tranqüilos, como o Sumaré e o Morumbi, fazendo curvas agachados, e as manobras eram as batidas para pegar impulso, os 180°, e os 360° sobre um dos eixos. E enquanto fazíamos isso, esse pessoal de Dogtown começava a inventar o skate vertical nas piscinas amebóides vazias de San Diego, Santa Monica e adjacências. As músicas, as roupas e as pranchas de surfe eram as da minha época, antes da invenção do leash. E o pouco de informação que havia era das revistas importadas, das quais eu tinha aquela compreensão enevoada de quem não conhece bem a língua, e alguém que fosse viajar e contasse histórias mais incertas ainda. A Califórnia com a qual eu sonhava era muito diferente da Dogtown que aparece no filme, um gueto latino violento, drogado, onde surfava-se um pico embaixo de um velho píer com um parque de diversões abandonado, poluído e dominado pelos locais. Me deu a impressão que a cultura adolescente de hoje foi formada naquela época e mudou muito pouco. A grande diferença é a circulação da informação.

quarta-feira, abril 12, 2006

Aleluia

Depois desse momento de reflexão e contrição, próprio da quaresma, que chega ao fim no sábado, este blogueiro promete sair dos tediosos planos gerais ideológicos, visões platônicas do impalpável mundo das idéias, e chafurdar na lama dos fluidos corporais secretados nas situações humanas reais. Com a melhor das intenções, malhar o judas que há em nós.

terça-feira, abril 11, 2006

Valores

Ainda pretendendo influir na forma como a civilização evolui, com a voz pequena de um blog dos menores, sem o embasamento teórico de que a Franka sempre fala, o palpite agora é um lugar comum sobre valores. Todo mundo sabe que ter grana é bom, e quanto mais melhor. Não há limites. Quanto mais não seja pra não ter que se preocupar com a falta. O perigo é se encantar com a coisa, transformar o meio em fim, e querer o que é “bom”, só porque é “o melhor”. E pior, muito pior, é sofrer por não ter. Sejamos estóicos. Não pode ir pra sua casa na montanha de helicóptero, vá no seu carrão e não reclame. Mas sem polianices. Há quem diga que o patrimônio, em certa medida, é uma expressão da personalidade, e nessa acepção merece a garantia dos direitos da personalidade. Acho razoável essa idéia. As roupas, a casa, os livros, discos, instrumentos musicais, equipamentos esportivos, culinários, tudo aquilo que a pessoa utiliza para se apresentar na comunidade e nas atividades que a caracterizam como tal. Mas há limites. Quem precisa de um cavalo do preço de uma casa? No mínimo um cavaleiro de primeira linha. E um barco caro? Depende, se a vida do sujeito for o barco e o mar, pode ser aceitável. Mas ninguém precisa ter um barco caro pra passar a vida no mar. O luxo pelo luxo é uma questão de gosto, ainda que digam que a indústria do luxo gera empregos e distribui renda, o que não me convence. E aí que a comissão de frente precisa lançar modas e combater a futilidade do luxo como distintivo social, como valor e conquista, não de modo policialesco, mas exibindo com convicção seus próprios valores. Pra mim o conforto espartano e utilitário, de acordo com a natureza, vai ser sempre o mais bonito. E nada como passar o tempo cultivando a saúde em esportes ao ar livre, ou consumindo arte, culta ou de entretenimento, a transmissão da experiência interior dos semelhantes, que é o que há de mais rico e é sempre barato.

segunda-feira, abril 10, 2006

Perfume de mulher 2

Ontem à noite inspirado pelo “Perfume de mulher” que passou na tv, tomei um uiscão e escrevi um post falando bobagem sobre o filme e fundamentalismo. Apaguei porque poderia ser mal interpretado. Acho esse neologismo esquisito. É a substantivação do adjetivo “fundamental” com sentido de doutrina, significando a postura daqueles que seguem de forma estrita os comandos de uma religião. Seria muito fácil se o manual de instruções da humanidade estivesse todo contido em um livro, claro e inquestionável. Mas, como diz o Saramago, temos que tomar cuidado com as palavras, pois elas vivem a mudar de opinião. E bem assim tudo o que com elas é construído, como as leis, religiosas ou laicas. O que fazem os fundamentalistas? Extraem em interpretações força-barra das suas escrituras em linguagem simbólica e muitas vezes hermética um rígido código de conduta, e o sacrifício que a sua observância implica lhes confere um sentimento de superioridade sobre nós outros, falhos pecadores. Humanos submetidos a limitações severas demais explodem.

sábado, abril 08, 2006

One of us



Edu utilizou comentando, a propósito de ponderações sobre as fraquezas humanas, às quais todos somos vulneráveis, a expressão “um de nós”. Lembrei imediatamente de um filme que eu já vi na prateleira da locadora mas nunca tive a manha de pegar. É o “Freaks”, um filme americano, antigo, que ouvi dizer gerou a primeira auto-regulamentação, digamos assim, ética, dos produtores de cinema de Hollywood. Pra quem não sabe o filme conta uma história muito humana, do casamento de uma linda trapezista de circo com um horroroso anão, seu colega de trabalho. Às tantas os amigos do anão descobrem que ela se casou por interesse, e pretende limpar o anão que é cheio da nota, pra fugir com o homem-forte. Os amigos do anão são os “freaks” do título, todos monstros colegas do circo de horrores, do tipo mulher-barbada, xipófagos, homem-tronco, gigante deformado, e a grande curiosidade do filme é que os atores são realmente monstros de circo. E acabam assassinando a trapezista, de forma macabra. Naquele filme que enfileira citações de filmes famosos, “Os sonhadores” do Bertolucci, como vocês devem se lembrar, há uma cena desse filme, que mostra os monstros recebendo a bela em sua turma, e cantarolando como crianças, repetem que a partir daquele momento ela era “one of us, one of us, one of us”. É uma fábula eloqüente, que fala por si só. Os personagens bonitões não valem nada, mas os monstros também não são grande coisa.


Já que ninguém levou a sério meu palpite sobre o fim das fronteiras, volto ao artigo XXII da Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948. Ainda que os humanos possam não merecer: “Todo homem, como membro da sociedade, tem direito à segurança social, à realização pelo esforço nacional, pela cooperação internacional e de acordo com a organização e recursos de cada Estado, dos direitos econômicos, sociais e culturais indispensáveis à sua dignidade e ao livre desenvolvimento da sua personalidade.” Ou seja, todo homem tem direito à dignidade, e assim, aos meios necessários para tanto, que todos sabemos quais são. E de obtê-los mediante o esforço nacional e a cooperação internacional. A cooperação internacional é voluntária ou obrigatória? Quanto? A ausência dos meios mínimos à dignidade não é uma negativa do mais fundamental dos direitos humanos, como dizia Hannah Arendt, “o direito a ter direitos”? Qual dos ricos vai por a mão no bolso, pra atender o africano faminto? O fechamento das fronteiras não é a fórmula da hipocrisia para impedir que o miserável vá pleitear o que é do seu direito onde existem os meios? “Todo homem, como membro da sociedade”, não distingue, e eu entendo que viola todas as constituições inspiradas nessa declaração, a distinção do nacional de um país do nacional de outro.


O tal do "Crash" é mesmo um filmão.

sexta-feira, abril 07, 2006

Enquanto o Gilberto Vil briga com o Hélio Bosta...

Uma vez por semana vou almoçar na casa dos meus pais. A última vez cheguei lá e estava um sujeito ensinando a minha mãe a pilotar a tv nova. Meus pais, a cada três ou quatro anos, mudam de casa, por variados motivos incontornáveis. Nessa última mudança, a tv de 33 polegadas não coube na estante que já havia no apartamento, então compraram uma de 29. A de 29 ficou um pouco longe do sofá, e eles a estavam achando muito pequena. Depois de muitas dúvidas e pesquisas, plasma, não plasma 9:6, 4:3, alta-definição, baixa-definição, acabaram optando pelo atual carro-chefe do mercado, a de plasma de 42 polegadas, por “apenas” 9.999 bagarotes (eu acho uma loucura por essa grana numa tv), como meu pai diz quando quer brincar com a coisa. Como todos sabem a tv wide-screen, quando se assiste a uma transmissão convencional, não pode ser aproveitada inteira. Ou ocupa-se o centro da tela, mantendo a proporção 4:3, sobrando uma faixa morta de cada lado, ou se ocupa a tela inteira, espichando e distorcendo a imagem. Meu pai ficou decepcionadíssimo. A enorme tv, que exigiu a reforma da estante, e custou cinco ou seis vezes o preço da 29 tela plana, exibia uma imagem praticamente igual. Estava revoltado, com todo o investimento, a tv, a estante, a nova assinatura de sinal a cabo digital, e a mesmíssima imagem. Acabou optando por tentar se acostumar com a imagem distorcida, ocupando a tela inteira. Para consolá-lo, disse que parece que a copa, um dos principais objetivos da troca do equipamento, vai ser transmitida em 9:6.

quinta-feira, abril 06, 2006

Comissão de frente - Salvação 4


É aí que entra a comissão de frente. Abre o desfile, apresenta a escola, e saúda o respeitável público. Os arautos das novidades, os verdadeiros contemporâneos, os que olham pra frente, e anunciam as curvas da estrada que vai a lugar nenhum. As mudanças são lentas e vacilantes, um pra trás, dois pra frente, assim caminha a humanidade, diz o filósofo Lulu Santos, com passo de formiga e sem vontade. Enquanto na Europa as fronteiras caem, muros vergonhosos se constroem entre Israel e a Palestina, e os Estados Unidos falam em erguer um na fronteira com o México. Não haverá um comissário de frente capaz de sustentar que o controle de trânsito de pessoas nas fronteiras ofende os direitos humanos garantidos pelas constituições de todos os países do mundo civilizado? A declaração de direitos humanos da ONU, cujos princípios estão incorporados às constituições de todos os seus membros, no seu artigo XIII, diz que todo homem tem direito à liberdade de locomoção e residência dentro das fronteiras de cada Estado, e que todo homem tem o direito de deixar qualquer país, inclusive o próprio, e a este regressar. Aí está a restrição odiosa. Curiosamente, existe o direito de sair, e não o direito de entrar. A soberania do estado, supostamente em benefício da coletividade, suplanta o direito individual. Apesar de todos os países membros garantirem a presunção de inocência, e a igualdade de todos, inclusive o estrangeiro, perante a lei, no momento do ingresso em outro país se julga conveniente suspender a boa-fé que unge o cidadão para tratá-lo como um criminoso. É a hora de revistá-lo, interrogá-lo sobre os seus propósitos, e perquirir os meios de subsistência em sua permanência. Se aprovado, recebe um visto de acordo com suas possibilidades. E depois que passa a roleta readquire todo o status de cidadão, tal qual o natural. Mas o mais misterioso dos artigos da declaração é o XXII: “Todo homem, como membro da sociedade, tem direito à segurança social, à realização pelo esforço nacional, pela cooperação internacional e de acordo com a organização e recursos de cada Estado, dos direitos econômicos, sociais e culturais indispensáveis à sua dignidade e ao livre desenvolvimento da sua personalidade.” Pra mim, isso só pode significar uma coisa: o estado inglês, francês, ou norte-americano é tão responsável pela dignidade do cidadão etíope como o estado etíope.

quarta-feira, abril 05, 2006

A salvação do mundo parte 3

A mesma contradição gregário/individualista se manifesta na tensão bem estar geral/bem estar individual, e que também está na tensão pecado e culpa/arrependimento e perdão. O pecado é contra o outro, o perdão é a reconciliação com a comunidade. O grande mérito no processo civilizatório de Jesus Cristo foi instalar este mecanismo, que era externo e dirigido por um deus paternalista e justiceiro, dentro da mente humana. E essa mesma contradição ainda é visível dezessete séculos depois na discussão iluminista do bom selvagem/homem lobo do homem. Me parece bastante evidente que cada um de nós carrega essa contradição, em todos os seus aspectos, e somos mais ou menos vulneráveis aos impulsos contrários ao bem geral, como a luxúria, a cobiça, a avareza, e suas variações, deixando de lado as precisões tomistas. Todos sabemos que o poder corrompe. Já estávamos mais ou menos livres da igreja no fim do século XVIII, quando foram lançadas as bases do estado burguês, com a revolução que derrubou os privilégios da nobreza, e conquistamos a liberdade, a igualdade e a fraternidade. Debaixo do palavrório e da patriotada leia-se liberdade de contratar, igualdade formal perante a lei, e a fraternidade dos filhos da pátria, a força do estado organizado com condições de proteger a burguesia nacional e seus negócios dos vários predadores. Esse é o modelo de estado que está chegando ao fim na Europa, o velho mundo, onde tudo acontece primeiro, com o fim das fronteiras dentro da União Européia. O ingrediente novo e revolucionário é a invasão de hordas de africanos e asiáticos, e como vão resolver essa parada.

terça-feira, abril 04, 2006

Ainda a salvação

Ou, mais importante, como bem ponderou o Substantia, como vamos? Pra mim o modelo político que melhor representa o sistema de forças sociais a que estamos submetidos ainda é o feudalismo, as relações de suserania e vassalagem entre os nobres, com os servos presos à terra. O que mudou, e que há muito tempo não cola, é a legitimidade do poder baseada no sangue, na sucessão, ou como pior já foi, na vontade divina. Não aceitamos mais a existência de privilégios. Agora existe alguma mobilidade nas falanges da elite. Nos organizamos em torno de interesses, satisfeitos na medida do possível. Troca, comércio, negócio. Cada vez menos a violência resolve, porque são raras as hipóteses em que o seu uso é aceito. É só ver o trabalhão que o George W. teve pra fazer essa última guerrinha, e os enormes problemas que está causando a ele. Na era da informação, fica difícil manipular fatos e forjar justificativas. Vivo dizendo por aí que as religiões e seus engodos não funcionam mais como balizadores de comportamento – o apocalipse já aconteceu - e só temos ao nosso alcance a racionalidade e a ética que dela decorre, de que o bem estar individual depende do bem estar geral. O bom, velho e ingênuo pacto social. O corrupto, o desonesto, e o bandido são burros e ignorantes. O ingrediente novo e importante, além do fim das religiões, é a capilaridade da informação. Está cada vez mais difícil dominar pela enganação. É uma pena, mas é só o começo.

segunda-feira, abril 03, 2006

Continua


Com o risco de inventar a roda, chover no molhado, usar os mais surrados clichês, resolvi salvar o mundo, por estar um pouco entediado. Parto do princípio de que o mundo não precisa ser salvo. A vida neste planeta, como tudo, é transitória, e mais bilhão de anos, menos bilhão de anos, um dia acabará. Como um vaso, hoje está em boas condições de luz e temperatura, com bastante água, o que não durará para sempre. Deixo pra lá a questão da possibilidade de migração para outras galáxias, necessidade ainda um pouco distante, pra me concentrar no que eu entendo ser o cerne da questão: a vida dos humanos. Simplificando ao simplório, o objetivo dos viventes é viver e reproduzir-se o máximo possível, movidos por um instinto de auto preservação e de preservação da espécie, uma força interna superior e incompreensível. Acho que não é necessário saber, ou melhor, ter como ponto de partida, mais que isso. A raça humana expandiu-se e dominou todas as extensões de terra firme que cobrem este planeta, não importando quão inóspitas, áridas, quentes, geladas, inundadas, íngremes, pedregosas pudessem ser, e conseguindo, bem ou mal, delas tirar o seu sustento. A capacidade de adaptação é apuradíssima, e uma das razões do sucesso dessa espécie visivelmente dominante. Somos uma espécie gregária, que gosta de viver em grupos tão grandes quanto as condições permitirem, e desde que preservada a nossa individualidade, o que é uma das nossas maiores e melhores contradições. Outro ponto aparentemente importante é o isolamento geográfico, decantado por Darwin. Por termos nos espalhado por todo o globo desde priscas eras, o isolamento e a adaptação acabaram por consolidar diferenças externas, físicas, e internas, culturais, entre os grupos. A contradição gregário/individualista, as diferenças físicas e culturais, aliados à competitividade natural na luta pela prosperidade e reprodução, criaram o cenário permanente da luta entre os grupos, e dentro dos grupos. A velha história dos círculos concêntricos de amizade e inimizade. Sou aliado do meu irmão contra o meu primo, sou aliado do meu primo contra o meu vizinho, sou aliado do meu vizinho contra o estrangeiro. Esse quadro, temperado com complexos freios culturais de religião, justiça e ética, nos trouxe até onde estamos. E para onde vamos? Infelizmente continua.

sábado, abril 01, 2006

Me dê motivo

Como previsto no carnaval, emburreci. Ontem fui ao cinema ver um filme muito simpático, o inglesíssimo “Mentiras sinceras”, e dormi aos quarenta minutos. Tá certo que eu tinha dormido pouco, acordado cedo, feito esporte, era sexta-feira, mas isso não costuma acontecer. Faz tempo não consigo ler um livro, vou à locadora não consigo escolher um filme, a tv anda chatíssima, e assaltar a geladeira não produz mais muita adrenalina. Foi-se a motivação, ou o que quer que seja que nos põe a caminho, no fim de semana, quando o açoite da necessidade deixa a lebre em paz. Qual era mesmo a minha quimera?