terça-feira, maio 31, 2005

A arte do insulto*



Ah, entendi! Filibusteiro, marinheiros de água doce, mercenários, açambarcadores, judas, renegados, esquizofrénicos, rizópodos, ectoplasmas, emplastros, trogloditas, aztecas, sapos do deserto, vendedores de tapetes, iconoclastas, zulos, parasitas, bexigosos, sacripantas, esclavagistas, tecnocratas, vegetarianos, quadrúpedes, corsários, hidrocarbonetos, canacas, giroscópios, doríferos, zuavos, antropopitecos, anacolutos, invertebrados, tocadores de gaita-de-foles, bichos-de-conta, velho pepino, sinapismo, escolopendras, velho cachalote, coleópteros, atarracados, anacoretas, bichas-solitárias, piróforos, colocíntidas, zigomicetes, gargarejos, cataplasma, saguins, espécie de iconoclasta míope, fanfarrão de orquestra, cretinos dos Alpes, equinodermes, fagote de Madagascar, galináceos, espécie de babuínos, cercopitecos, velhacos feitos de extracto de cretino, turcos, saltimbancos amestrados, espécie de analfabeto diplomado, bacalhau atlético, zebróide, protozoários, lagarto desmontável, bando de zapotecas, patagónios, micróbio, ornitorrinco, espécie de logaritmo, ratos neurasténicos, ciclotrão, pepino em conserva, pedaço de morcego, cabeça de martelo, emplastro em banha de ouriço, concentrado de mexilhão bexigoso, viviseccionistas, torcionários, antropófagos, astronauta de água doce, espécie de selvagem interplanetário, subproduto de ectoplasma, bugre subnutrido, cretino dos Balcãs, autodidactas, bugre de creme de emplastro à base de idiotice, polígrafos, bazucas dos Cárpatos, selvagens preparados com molho tártaro, incendiários, fenómeno de canibal, anticristo, barroco, coloquinta, visigodos, pedaços de energúmenos com nariz de coco, espécie de equilibrista, cretinos do Himalaia, espécie de Cró-Magnon, mamelucos, macrocéfalos, rocambole, filoxera, megalómano, sátrapa, espécie de lobisomem com gordura de ranúnculo, pirómanos, baco, belzebu, velha coruja enferrujada, oficlídio, espécie de diplodocus escapado directamente da pré-história, pterodáctilo.
Coletados por Dudi
*Schopenhauer escreveu "Como vencer uma discussão sem argumentos". Para a hipótese de fracasso, tirou da cartola também "A arte do insulto", na qual Haddock foi um expoente histórico.

Um crime prescrito

.


Numas férias de julho, entre 12 e 13 anos, fomos viajar pra fazenda daquele meu amigo que se matou, lá perto de Presidente Prudente, em Judúcudas. Eu, ele e A. Pegamos o trem noturno na Estação da Luz, ou Júlio Prestes, sei lá, e embarcamos no vagão Pullman que era quase um ônibus leito, já com um plano maligno testado e aprovado (o mérito é todo de M.). Compramos vários sacos de bolas de encher pequenas. Vestíamos um casaco de nylon que se usava na época chamado canguru, com um grande bolso quadrado na frente e elásticos nas mangas e na cintura, e um capuz. Íamos até o banheiro, enchíamos as bexigas de água, escondíamos as ditas debaixo dos cangurus, atravessávamos todo o vagão até o terracinho lateral da extremidade oposta à do banheiro. E esperávamos as estações. Na hora em que o trem estava saindo – sim o plano era perfeito – atirávamos nossos torpedos na população incauta. Aquela mulherada toda arrumada, tomando as bombas de água gelada. As estações tinham um movimento danado, e eram muitas. Nenhum guarda percebeu nada. E lá íamos nós, suspeitíssimos, atravessando o vagão com nossas panças de água. Foi assim a noite inteira. De manhãzinha, um puta frio, passamos por uma estaçãozinha secundária, e o trem nem diminuiu a velocidade. Tinha um cara lá, parado, esperando não sei o que. Com a prática já adquirida, eu e A soltamos nossas bombas ao mesmo tempo, simplesmente deixando-as cair. Uma atingiu o cara no peito, e outra na cara. Duas bombas de um quilo e meio de água gelada, a uns oitenta quilômetros por hora. O cara foi para o chão com violência. Foi um feito muito comemorado.

segunda-feira, maio 30, 2005

Pecus voa




Há um tempo atrás, com a notícia de que as ondas estavam altas, fui com um amigo para um bate-e-volta no Guarujá. Chegamos cedinho na praia do Tombo e as ondas estavam enormes. Muita gente olhando, pouca gente na água. Quem sabe a gente dá sorte e consegue passar a arrebentação. Sim porque nós que usamos o pranchão temos uma vantagem na remada, e uma desvantagem pra passar a onda, indo pra fora, pois não se consegue afundar o pranchão, como se faz com a pranchinha, e passar por baixo da espuma. Tentamos algumas vezes, até esgotarmos nossas forças. A correnteza estava fortíssima, e entrávamos no canto sul e em 10 minutos já chegávamos no Bostrô (simpático nome do canto esquerdo, de antes do emissário que limpou a praia). Finalmente desistimos, e estávamos saindo da praia para ir a um lugar mais fácil, talvez Astúrias, quando uma moça bonita de prancha na mão nos abordou e começou a puxar papo furado. Depois soubemos porquê. O carro do meu amigo havia sido furtado. Também facilitamos. A chave estava escondida num lugar bobo, no paralama. Os dois goiabas lá, a pé, descalços, de roupa de neoprene (era um dia frio e ensolarado de fim de outono), sem carteira, documento, vendidos. Meu amigo, perplexo, não raciocinava direito. Fui dando as instruções. Ligar pras mulheres pra cancelar os cartões, deixar as pranchas com o salva-vidas e dar o alerta para a polícia. Pegar o ônibus sem pagar e ir para a delegacia. A chatice do BO e a informação: o carro vai ser rapidamente achado, porque o Guarujá é uma ilha. Dito e feito, poucas horas depois acharam o carro depenado, com os cartões e cheques faltando e tudo o mais. Haviam deixado um cartão de débito na minha carteira, e fomos comer no McDonalds, bem longe da praia, com aquela indumentária ridícula. O pior de tudo foi ir descalço ao suspeito banheiro da delegacia. A mulher do meu amigo veio de São Paulo com as cópias dos documentos, e vencida a burocracia, fomos buscar as pranchas com a última obrigação de passar na delegacia de Vicente de Carvalho pra fazer uma perícia. Chegamos lá e mau sinal, a delegacia estava trancada. O perito, um simpático surfista santista cinqüentão, nos disse para nunca, jamais, utilizarmos o túnel da Enseada, e explicou que dos anos 70 pra cá, cada prédio construído gerou uma enorme quantidade de desempregados, que estabeleceram residência definitiva na ilha para esperar o fim do processo trabalhista. Ao que parece era mais barato para as construtoras. Hoje, segundo o cara, o Guarujá tem uma população de 120 mil favelados contra 60 mil residentes não-favelados, o que gera uma certa tensão social e violência.

Terror matinal

Hoje de manhã, no auge da depressão pós-feriado, com dificuldade de sair da cama, vi – sim eu confesso – o “Mais Você” inteiro, com a desculpa de ver a entrevista com o Márcio Thomaz Bastos e a prometida receita de barreado. Normalmente o fim do “Bom dia Brasil” é o máximo que eu me permito ficar na cama, nos dias de intensa preguiça ou desânimo. Hoje me entreguei ao buraco-negro. O ministro eu perdi, pois dormi de novo. Depois de merchandising de empréstimos para aposentados com desconto em folha – sim, a Brega explora velhinhos – que é só também o que tem nos intervalos, e merchandising de Nutella – embora a Brega não tenha conseguido disfarçar sua repugnância àquela pasta enjoativa às 8 da manhã – veio a tal receita de barreado. Não é que a filha da puta – com o perdão do epíteto – conseguiu enfiar caldo knorr e extrato de tomate elefante até no barreado, que é o cúmulo do caldo de carne! Fora a dica sobre a escolha da panela de barro, pois várias quebraram durante a tentativa. Aposto que ela não sabe inicializar uma...

Act of God

O tornado em Indaiatuba destruiu não sei quantas sedes de empresas. Estava no telejornal a discussão sobre as apólices de seguro, se cobrirão ou não os “desastres decorrentes de fenômenos da natureza” ou coisa que os valha, que em inglês são chamados de “acts of God”. Vi na tv um filme B australiano, sobre um advogado que vira pescador e tem a sua traineira destruída por um raio, “act of God”, e perde tudo o que tem. Resolve processar Deus, na pessoa de seus representantes na Terra, os chefes das principais igrejas, que acham prudente não negar a qualidade e comparecem ao processo. É muito engraçado. Mas são as cláusulas em letras pequenas, ou aquelas que jamais se imaginou pudessem existir, que surpreendem quem contrata de boa-fé. A mim parece um golpe que pode ser infinitamente aplicado. Só quem caiu não cai mais. Como contra-argumento, dizem ser insuportável às seguradoras o ônus de uma grande catástrofe natural. Só manipulação das estatísticas.

Mundo azul escuro

Sobrou picanha do seu churrasco? Supondo que esteja mal passada, pegue a faca e tire toda aquela capa de gordura, que quente pode ser gostosa mas fria é rançosa, pra dizer o menos. Daí sim fatie e coma com molho de carpaccio.

Vi ontem a noite um filmão tcheco, co-produção com a comunidade européia quase toda, de nome “Num céu azul escuro” ou “Dark Blue World”. Lindas batalhas aéreas entre Spitfires e Messerschmitts defendendo os grandes bombardeiros, e cenários absolutamente de sonho, uma guerra romântica e idealizada. A estrutura moral do filme é ingênua e fiel à época, com personagens cavalheirescos, heróicos e éticos, arrastados por mal-entendidos a uma traição. O filme é caprichadíssimo no visual, nos detalhes, e tem ainda uma linda canção. Quando eu era moleque eu adorava esses caças, tanto o inglês como o alemão, e procurava toda informação disponível sobre eles e suas batalhas. Bem nerd. Ainda sou um pouco assim, e volta e meia me pego assistindo Discovery Channel sobre grandes estruturas ou supermáquinas.

quarta-feira, maio 25, 2005

Vida besta

Ontem à noite fique ouvindo o famoso quarteto Dissonante de Mozart (k465) na rádio Cultura, enquanto assistia a um jogo de futebol da série B do Campeonato Brasileiro (Vilanova 1 x Bahia 0). Uma nova forma de diversão meio sem graça possibilitada pelo romitfiater. Uma das razões pelas quais eu gosto de música de câmara é que me parece esquisito pôr toda uma sinfônica dentro da sala, ou pior, dentro do carro. No meu carro cabe no máximo uma camerata barroca. É, vou pôr uma camerata barroca no carro e viajar. O feriadão vem a calhar, estou quase parando. Apesar do estrago causado pelos 270mm de água, as partes secas da cidade estão lavadas e limpas. O ar também. Pensando bem, ficar não será nada mal.

terça-feira, maio 24, 2005

Foi-se o tempo

.

Tenho dado aqui neste brogue uma de santinho do pau-oco, dizendo não às drogas e preocupado com o perigo que representam para os nossos adolescentes, o que é absolutamente sincero, mas a verdade é que as drogas, ou algumas delas, proporcionam experiências realmente interessantes. Como um esporte radical mental, os riscos são proporcionais às recompensas. É só ver a importância cultural da coisa, desde a turma do spleen, do século XIX, passando pelos jazzistas do bebop, beatniks, hippies, grunges, etc.. É bom mas é perigoso. Uma vez, quando tinha uns 20 anos, fui passar um feriado de semana-santa na fazenda de um amigo, e além da nosso grupo, estavam alguns amigos de seu irmão. Ao todo umas dez pessoas, homens e mulheres. Eu era o único maluco-beleza. Havia chovido na véspera do feriado, e a natureza estava intumescida, tudo muito verde e úmido. Os cogumelos de bosta-de-vaca cresciam do tamanho de uma bolacha de chopp ao tamanho de um cd em horas. Os quatro dias de manhã eu ia sorrateiramente até o pasto perto da casa, e comia direto do chão uma boa quantidade dos fresquíssimos fungos, sem contar pra ninguém. O fato é que, além da explosão de luzes e cores, eu tinha a sensação de ter acesso fácil e imediato a todas as informações constantes do meu palácio da memória, e produzir relações entre elas, com uma velocidade e clareza sobre-humanas. As duas turmas que não se conheciam estavam em volta da piscina, e eu, munido dos super-poderes, fui pegando uma informação de um, levando para o outro, através da piscina, e em pouco tempo elas se misturaram muito bem. Fiquei nesse estado os quatro dias, e ninguém notou, e pelo menos para mim minha atuação era irrepreensível, melhor que o usual até. Às vezes dava uns foras comentando alucinações visuais, como o reflexo verde da piscina nos corpos, ou a explosão do açúcar dentro da jarra de limonada, mas logo percebia que só eu via e parava. A sensação de comunhão com a natureza e suas forças ancestrais era muito intensa. Fizemos um passeio a uma reserva de jequitibás-rosa que existe em Descalvado, e eu estava ali junto aos imensos vegetais de 4000 anos, com a impressão de ter compreendido tudo, de ser tão velho como as árvores. As tantas, para o fim da tarde, todos começaram a ficar desesperados com os pernilongos, e eu também sentia as picadas, que simplesmente não incomodavam nada.

segunda-feira, maio 23, 2005

É só caratê

.

Sábado minha sogra estava de manhã no estacionamento do Pão de Açúcar da Panamericana, quando três carros entraram em alta velocidade dando freadas bruscas, tocando música alta, com a tripulação gritando e batendo na lataria. A pobre senhora ficou com medo e foi reclamar com o gerente. São os jovens alcoolistas descritos no Estadão de ontem, que compram cerveja nas geladeiras externas dos supermercados e ficam bebendo no estacionamento antes de ir pra balada. Acho que isso está acontecendo no mundo todo, se é que mudou alguma coisa. Até surgiu um novo gênero literário “chick lit noir”, de mocinhas baladeiras descrevendo suas peripécias de sexo, drogas e téquino. Lolita Pille, francesa, com “Hell”, Meli Panarello, italiana, com “100 escovadas antes de ir para cama”, e Helen Walsh, inglesa, com “Brass”, são seus expoentes. O último livro do Tom Wolfe, “Eu sou Charlotte Simmons”, segue essa onda, descrevendo a orgia universitária. Quem lê esses livros? Será a nova onda beat ou a zona cinzenta entre pornografia e literatura? O Matthew Shirts outro dia avisou pra não perder tempo com o último Paulo Coelho. A imprensa anda tão impressionada com a vendagem internacional do cara, que parecia estar todo mundo meio assim de falar mal. Já me falaram também pra não ver “Cruzada”, o filme, que é só caratê. E o “chick lit noir” alguém já leu?

domingo, maio 22, 2005

Fouga Magister

.

Vi esse lindo avião antigo, de nome Fouga Magister (música barroca?) e que parece a nave do Flash Gordon, fazendo acrobacias num evento no interior. Voltando pela nova Bandeirantes, reparei no bom trabalho de recuperação de mata que vem sendo feito ao longo das margens da rodovia, com as árvores de espécies variadas formando bosques que já estão com dois ou três metros de altura. Não consigo entender porque não fazem o mesmo no Parque Villa-Lobos. A mim parece óbvio que um parque tem a função essencial do convívio com a natureza. Porque preencher o parque com várias e imensas estruturas de concreto, como fizeram com o pobre Ibirapuera? Há anos o coitado do Villa está pela metade, com mega-monstros de concreto abandonados e boa parte coberta de asfalto, para ser usada em eventos empresariais ou demagógicos que atraem multidões destruidoras. Imensos e medonhos autidóres do governo do estado nitidamente publicitários estão nos locais mais visíveis. Durante um bom tempo permaneceu na marginal um que dizia “Parque Vilas-Boas”. Nos fins-de-semana, a população da área usa intensamente o parque, para caminhar, correr, andar de bicicleta, patinar, jogar basquete, futebol, tênis, namorar, soltar as crianças, as pipas, exibir seus cachorros, jogar capoeira, ou fazer nada. Outro dia vi um sujeito que levou uma rede, pendurou entre duas árvores, e ficou deitado, sei lá se lembrando de sua terra natal. É isso que se faz num parque. Precisa de estacionamento, banheiros, bebedouros, quadras de esportes, trilhas e pistas, bosques e gramados, talvez um lago com ninféias, carpas e aves aquáticas, e mais nada. Que sonho seria acordar tarde num dia de calor, e dar uma corrida por uma trilha de 3 km de sombra de árvores! Se o parque fosse meu eu pegaria imensos bull-dozers, cavaria um lago perto da marginal e faria uma barreira contra o ruído da via expressa, utilizando o entulho das mega-inutilidades, para criar uma ilha de natureza e tranquilidade. Entregaria o parque a engenheiros florestais que produziriam uma mata artificial com espécies variadas que aqui haviam, como a da estrada ou mesmo a que já existe lá na área colonizada do parque, entremeada de trilhas e clareiras com quadras de esporte, cheias de sombra. Os parques aos jardineiros, porra!

Placar de sexta: 5 chopinhos sensatos
Sábado: TODAS

sexta-feira, maio 20, 2005

Ah, e o placar

Terça-feira no almoço: meia garrafa de vinho branco, extravagância e sono
Quarta-feira répiau: todas, uma grande inconveniência impedida pela fada-madrinha

Ai que vontade...

.


Em “Zaratustra” o profeta impõe como motor do humano a “vontade de poder”, e não a “vontade de existir”, porque não se tem vontade de ter algo que já se tem, ou a “vontade de viver”, pelo mesmo motivo (o instinto de preservação da espécie seria pois inócuo e redundante). Todos nós seríamos movidos por isso: “a vontade de poder”. À primeira vista essa vontade de poder soa desagradável, pois aparenta a vontade de dominar outros. Pelo que eu entendi, não é nada disso, mas o poder criador de gerar novos valores. Criar o novo bom, este seria o grande poder, negando valores antigos, estéticos e sociais. Este seria o caminho da superação do humano para criar-se a ponte que levaria ao super-homem, que no entanto estaria ainda muito longe, muitas gerações para ser atingido. Ele não indica que valores seriam estes: criar seus próprios valores é o problema de cada um. Não há atalho. E eu devo ter entendido tudo errado. Arriscando um exemplo, David Byrne gravou em seu último trabalho duas árias de ópera, sem compromisso com o bel-canto (que eu nunca consegui engolir). Disse ser errado encerrar canções de tal qualidade em um repertório de acesso restrito. Está rompendo o sistema de valores tradicional fechado do bel-canto operístico (que sequer perceberá estar sendo destruído), e criando um valor novo na estética da música. E de forma individual. Diria que encaixa no modelo. Mas, pensando melhor, o rompimento dos valores tradicionais e a criação de novos não foram intensamente praticados durante todo o século XX? Será que a profecia se cumpriu?

Nóis é nóia mais é gente

Ontem no Estadão a seqüência da limpeza da Crackolândia. O secretário sub-prefeito dândi está preocupado em se mudar do gabinete medonho da Av. do Estado com Tiradentes, enquanto os nóinha se encastelam no chafariz da praça Júlio Mesquita pra pipar. Segundo o jornalista, a polícia afasta a criançada que não tem aonde ir como quem espanta moscas, que circulam a velha Crackolândia sem saber onde ficar.

quinta-feira, maio 19, 2005

Surfista Prateado, Tahiti, ontem

.

Onda e vontade – Com que fissura essa onda chega, como se tivesse o que matar! Com que pressa assustadora se insere pelas tocas dos corais! É como se quisesse chegar antes de alguém; como se ali escondesse coisa de valor, muito valor. – E agora ela recua, um tanto mais devagar, ainda branca de loucura – estará desiludida? Terá encontrado o que procurava? Puta da vida? – Mas logo vem outra onda, mais louca e brava que a primeira, e também sua alma parece cheia de segredos e da fome de tesouros. Assim vivem as ondas – assim vivemos nós, animais com vontade! – e mais não digo. – O quê? Vocês desconfiam de mim? Ficam putas comigo, monstras lindas? Têm medo que eu traia o seu segredo? Pois bem, fodam-se, levantem os seus perigosos corpos verdes o mais alto que puderem, um muro entre mim e o sol – como agora! Realmente, nada mais resta do mundo senão o fim-de-tarde verde e os raios verdes. Façam como quiserem, morras gigantes, gritem de prazer e de maldade – ou novamente mergulhem suas esmeraldas nas profundezas, espalhando suas rendas brancas sem fim e rajadas de espuma – pra mim tá tudo certo, pois tudo lhes cai bem e por tudo agradeço: como eu poderia lhes trair? – Ouçam bem! Conheço vocês e o seu segredo, conheço a sua raça! Vocês e eu somos da mesma raça! – Vocês e eu, temos o mesmo segredo! (Nietzsche purinho)

quarta-feira, maio 18, 2005

Inacreditável - do Ministério do Trabalho

http://www.mtecbo.gov.br/busca/descricao.asp?codigo=5198

5198 :: Profissionais do sexo

5198-05 -

Profissional do sexo - Garota de programa, Garoto de programa, Meretriz, Messalina, Michê, Mulher da vida, Prostituta, Puta, Quenga, Rapariga, Trabalhador do sexo, Transexual (profissionais do sexo), Travesti (profissionais do sexo)

Descrição sumária
Batalham programas sexuais em locais privados, vias públicas e garimpos; atendem e acompanham clientes homens e mulheres, de orientações sexuais diversas; administram orçamentos individuais e familiares; promovem a organização da categoria. Realizam ações educativas no campo da sexualidade; propagandeiam os serviços prestados. As atividades são exercidas seguindo normas e procedimentos que minimizam as vulnerabilidades da profissão.

Pecus voa

Pecus às vezes lê jornal



Foto Kevin Penzien


Nesse país de excluídos não há como negar alguma simpatia ao MST. Se você nasceu sem nenhuma oportunidade, é razoável que utilize caminhos não ortodoxos para conquistar seu lugar no solo. Mas a marcha que chegou ontem a Brasília, ao custo de 5,5 milhões doados por governos petistas (o Fonteles disse que vai pegar), pra sitiar o Alvorada, não sem antes cercar a Embaixada Americana e combater o imperialismo, meu, já tá virando espetáculo. Fora o quebra-pau entre os 12 mil marchantes e a polícia de choque, só mesmo o Supla pai pra apartar. Ninguém se machucou seriamente. O Lula confessou a dívida com o movimento, vestiu o boné vermelho, e prometeu contratar mais 1.300 sem terra pra trabalhar no INCRA, endurecer os parâmetros de produtividade das fazendas sujeitas a desapropriação, e assentar mais não sei quantos. Eu e a torcida do Corinthians, preferimos o emprego do INCRA a um lote. Qual será o critério. Antiguidade, merecimento ou concurso público restrito aos MSTistas de carteirinha?

terça-feira, maio 17, 2005

Efeito borboleta



Como todo mundo viu, a notícia da semana passada na Newsweek da profanação do Alcorão na prisão americana de Guantánamo gerou uma onda de protestos em todo o mundo islâmico, causando 15 mortes e uma centena de feridos, alguns atingidos por tiros da polícia que tentava conter as manifestações, e outros talvez pisoteados. As informações são vagas. No episódio de tortura a prisioneiros muçulmanos foram atirados exemplares do livro sagrado na privada, com pelos menos uma tentativa de descarga. Depois da cagada a revista retratou-se, culpando a fonte. A soma de grotescos impressiona. Como um ato simplório de jogar um livro numa privada pode matar e ferir tanta gente? Como uma notícia inoportuna pode matar e ferir tanta gente? Como a manifestação pública de protesto pode matar e ferir tanta gente? Tortura, ofensa, raiva e loucura coletiva. Dá até medo de comentar o fato, aqui neste cantinho perdido da web, e machucar mais alguém, pelo efeito borboleta.

O sono da beleza

.

Li há uns dois ou três dias no jornal uma carta de um pobre sujeito vizinho ao aeroporto de Congonhas, reclamando do insuportável barulho dos aviões depois das dez da noite, e a partir das 6 da manhã. O DAC respondeu dizendo que o horário do aeroporto é das 6 às 23 horas, e que qualquer irregularidade fosse comunicada ao órgão (possivelmente para faturar uma multa). O DAC garante 7 horas de sono àqueles incomodados pelo tráfego de jatos, ao que consta o mais poderoso ruído da rotina das cidades. Serão tais horas de sono suficientes ao descanso? E as crianças? Quas as recomendações das autoridades da medicina? O minhocão, se não me engano, fecha das 9:30 da noite às 6:30. Porque a diferença de critérios? Logo que saí da casa dos meus pais fui morar em apartamento que só tinha um problema. Era perto de um grande corredor. Vivia de janelas fechadas, e o ruído acabou me traumatizando. Uma noite sonhei que ia ser atropelado por uma jamanta e pulei da frente dela para escapar. Acordei no chão, ao lado da cama. Deve ter passado um caminhão de escapamento aberto, e entrado no meu sonho. Imagino os sonhos dos vizinhos do aeroporto, com Concordes e Airbuses despencando sobre suas cabeças.

segunda-feira, maio 16, 2005

Coisa fina

Fluía o tempo e, em 1.287, quando Dante completava vinte e dois anos, divulgou-se um fato subitâneo e inesperado. Beatriz Portinari ficara noiva e, quase imediatamente, desposou o cavaleiro e próspero homem de negócios Simão de Bardi, ligado à família dos Ubertis. O poeta recebeu com muita serenidade a notícia, parecendo estar convencido, desde muito, de que assim deveria suceder. O nome e a figura de Beatriz achavam-se, porém, associados indissoluvelmente ao seu destino humano e poético. Não se interrompeu nele o culto por sua musa inspiradora. Continuou a celebrá-la nos versos imortais da Vida Nova e em numerosos outros poemas e canções, como se nada houvesse acontecido. Cristiano Martins.

Motos

Hoje de manhã*, na cama, vi a corrida de moto de Le Mans. Valentino Rossi, mais uma vez, fez a diferença entre o tédio e a diversão. O garoto magrinho parece um arlequim corcunda com aquele macacão colorido, endiabrado. Sua uma moto é um pouquinho pior mas anda mais rápido. Craque incomparável (mesmo) e louco. As acrobacias e micagens da comemoração são outro espetáculo. Indescritível. Pena que eu nunca lembro de ver essas corridas. Lá pro fim dos anos 80, antes da abertura da importação pelo Collor, vendia-se duas motos rápidas por aqui. A Honda 750, boa e cara, e a Yamaha RD 350, que custava acho que menos da metade do preço, e andava mais ou menos o mesmo (de 0 a 100 era mais rápida). A RD era o jeito mais barato de andar a 200 km/h, mas era barulhenta, fumacenta, e perigosa. Leve, instável, seu freio traseiro travava com facilidade. Me diverti muito com uma dessas, até nos arrebentarmos juntos. Lembro uma vez, vindo do centro pela 23 de maio, lá embaixo ainda emparelhei com um tiozinho numa 750, que vinha sossegado. Dei a super reduzida escandalosa e fui embora. Quando cheguei lá perto do obelisco, a uns 160, olhei no retrovisor e o tiozinho tava lá grudado em mim.
Placar de hoje*: mais ou menos 2/3 de 1 garrafa de vinho tinto no almoço
*domingo 15

sábado, maio 14, 2005

O homem invisível - a canção

Tem dias em que não quero ser ninguém
Não quero ser notado nem por acidente
Assumo um comportamento bem discreto
Não olho nos olhos de ninguém e fico quieto

Sou o homem invisível
Homem invisível
Homem invisível
Aquele que nunca foi visto por ninguém

Até a minha mãe passa reto por mim
E nesses dias eu prefiro que seja assim
A polícia se esquece de pedir meu documento
E isso é uma coisa que eu jamais nunca lamento

Sou o homem invisível
Homem invisível
Homem invisível
Aquele que nunca foi visto por ninguém

Tem horas em que sinto falta dos amigos e do meu bem
Mas estou tão loooooooooooooooooonge desse mundo
Tão protegido de todas paixões e dos perigos
que me dá preguiça de voltar ao mundo dos vivos

Sou o homem invisível
Homem invisível
Homem invisível
Aquele que nunca foi visto por ninguém

O homem invisível

.
Quando eu era moleque desenvolvi uma técnica de invisibilidade, pra não ser atingido por chamadas orais durante as aulas. Assumia uma expressão vazia e evitava contato visual com o professor, uma postura meio relaxada, transmitindo a mensagem de que seria desinteressantíssimo me chamar. O médio do médio, o verdadeiro medíocre, aquele que não vai acertar nem errar, só vai derrubar a aula. Transparente, invisível. Com o tempo fui aperfeiçoando, e hoje consigo ser um fantasma diurno. A técnica foi muito útil na seleção do serviço militar. Centenas de homens nus, num ginásio ou algo assim, em pleno inverno, frio e fechado, e um inacreditável e nauseante cheiro de pinto. Alinhados contra a parede enquanto um sargento ou dois, vestidos, gritavam obscenidades na cara dos infelizes escolhidos. Imprescindível desaparecer. Uso ainda para passar em comandos, postos rodoviários, evitar cumprimentos indesejados, andar por lugares perigosos e sei lá que outras situações. O problema é que se acostuma e vai se achando confortável ficar lá, fora do mundo, longe de todos, como um astronauta em órbita. Às vezes dá medo de não voltar.
Placar de ontem: TODAS

sexta-feira, maio 13, 2005

Método Howard Hughes

Abra a porta com o cotovelo, se o trinco permitir. Se a porta for de mola, levante o braço e puxe/empurre onde ninguém põe a mão. Mire na mosquinha de mentira. Dispare. Dê descarga com o pé. Lave as mãos. Seque com a toalha de papel. Ainda com a toalha de papel, manipule o trinco e abra a porta. Segure a porta com o pé. Amasse a toalha de papel e arremesse ao cesto. Não erre.

Eu conheço esse cara

Mulher viajando a trabalho, acordo atrasado pois “não sei” armar o despertador, uma das crianças também perdeu a hora, depois do café dão uma trombada na hora de escovar os dentes e se engalfinham como cachorro bravo. Vão rosnando até o colégio. Em casa tomo o café e leio sussa o jornal, banho, abro a gaveta e nada. Não estou bem de roupas brancas. Visto uma samba-canção de guitarrinhas coloridas, sexta-feira 13, abolição, todos são iguais mas uns são mais iguais que os outros. Igualdade temperada. Cartilha de direitos humanos, quotas da universidade, a cor é só um detalhe. Uma época tentei enfrentar o problema e fazer a revolução pessoal. Abri o portão para o jardineiro e estendi a mão para cumprimentá-lo, como cumprimentam a mim. Peguei na mão cascuda e imagino que ele tenha sentido a mesma estranheza em relação a minha pele fina.
Placar de ontem: 5 responsáveis chopps

quinta-feira, maio 12, 2005

Nietzsche, o filósofo popstar*

Em “Gaia Ciência” há um aforismo que descreve o modo como passamos a gostar de uma música. A princípio ela nos causa alguma estranheza, depois vamos nos acostumando com seus desenhos e cores, daí ela vai se tornando familiar e logo a adoramos, sentindo necessidade real de ouvi-la novamente. É uma experiência cotidiana. Nietzsche diz que o mecanismo se aplica ao amor romântico. Lembro de um documentário que vi sobre um violinista aprendendo a tocar, e tal processo implica no desenvolvimento de redes neurológicas especializadas na tarefa. Uma vez desenvolvidas, ao longo de anos, lá permanecerão. Talvez seja a mesma coisa com as músicas. Depois que construímos nossas pequenas árvores neurológicas para acomodá-las, a qualquer momento que as ouvimos, acionamos a planta existente, que se acende e se agita, provocando a sensação de prazer, e permitindo a realização de uma tarefa, como cantar ou tocar. É um jardim que quase não precisa ser regado, ou melhor, uma floresta da qual não se tem controle. Se retiramos a planta da floresta, e regamos em excesso, enjoamos. Mas basta um tempo sem ouvir, que a saúde volta. Também a imagem do Gil, de que quando encontramos um amigo que não vemos há tempos, a saudade explode como uma garrafa de cerveja que cai no chão. A visão do amigo acende repentinamente a planta respectiva que estava esquecida em algum canto da floresta, que há tempos não visitamos. No filme “Benjamin”, da linda Monique Gardenberg (jardineira?) sobre história do Chico Buarque, quando o velho Benjamin vê a imagem rediviva de Castana a quem perdera muito tempo antes, a árvore já cinqüentenária que crescia escondida na floresta septuagenária explode com enorme violência em flores, frutos, papagaios e tudo o mais que se possa imaginar... Ou terão nossas florestas neurológicas centenas, milhares, ou milhões de anos?
*O preferido dos adolescentes.

Um poema


Este poema de Robert Crumb traduz meu estado de espírito atual. Tá na hora do remedinho?

Utilitária?

Placar de ontem: 7 chopps
Uma insônia braba.

Procurei nas minhas estantes “Confissões de Adolescente” de Maria Mariana, pra tirar uma cisma. Não encontrei, não acho que tive, nem compraria. Talvez tenha lido de alguém, numa casa de praia. Mas se bem me lembro há uma passagem que muito me impressionou, quando a autora confessa masturbar-se ouvindo Vinícius de Moraes declamar poemas em fita. Surpreendente o poder da sua cantada, atingindo em cheio uma adolescente de várias gerações depois da sua. A tese é de que boa parte do motor da sua poesia venha mesmo da intenção de seduzir. Poesia utilitária? Tantas vezes já ouvi cantores pop dizerem de sua motivação inicial: agradar as mulheres. Claro que é uma redução. Mas o que são as cartas de amor, as músicas românticas, senão cantadas?

quarta-feira, maio 11, 2005

Motivos do crime

A divisão da versão da "A whiter shade of pale" não é idêntica, mas funciona. Soa como jovem guarda (balançar a cabeça como o Roberto ajuda). As notas abaixo são da introdução tocada no órgão, que dizem ser inspirada em Bach (o baixo da ária da corda sol, entre outras). Nunca me senti muito à vontade cantando, muito menos em inglês, por isso fiz versões de algumas das prediletas, que sempre chocam os estômagos mais sensíveis. Lembro dessa música em dois filmes: Contos de Nova Iorque, na parte dirigida pelo Scorcese sobre um pintor esporrento, que a repete de maneira obsessiva enquanto pinta; e em "The commitments", quando o tecladista da banda a toca no órgão da igreja, e o padre comenta quão misteriosa é a letra. O verdadeiro motivo do crime é utilitário. Gravei a primeira estrofe numa fita e mandei pruma moça. Hit passageiro. A segunda parte foi pra tentar uma repescagem.

terça-feira, maio 10, 2005


E essa é a bachiana introdução.
Quando eu falei que assassinava canções, eu não estava brincando. É uma versão livre de "Whiter Shade of Pale".

Este clássico eu profano
Pra lamentar o meu engano
De ficar na sua pista
Ando exagerando na bebida
Com a personalidade dividida
Sapo não namora a lua
Nem anda na mesma rua
Você estava linda na avenida

Não tenho paz
Desde o dia em que eu te conheci
Eu estou tão perturbado
Sem saber aonde ir

Já passou quase todo um ano
Eu parei de fazer planos
Vou seguindo pela vida
Maltratando outras meninas
Todas têm o mesmo defeito
Nenhuma me olha do seu jeito
Do jeito que você me olhava
Sem dizer uma palavra

Mais excessos

Placar de ontem (fora a garrafa de vinho do almoço do dia das mães):
Duas horas de cerveja: mais ou menos 2 litros
Inconvêniências: vários comentários e uma séria indiscrição.

Nas horas vagas


Pecus gosta de assassinar canções indefesas

segunda-feira, maio 09, 2005

Blá, blá, Bach...

Quando ouço Bach me parece identificar resignação com a condição submissa que o artista assumia frente ao mecenas, e ao mesmo tempo alegria tranqüila de quem está em diálogo direto com o Criador através da sua arte elevada, o que o ajudaria a ser condescendente com o pobre monarca. É uma perspectiva barroca, de gente pressionada na terra, que se volta para o céu. Para contraste, Beethoven, quase romântico, é arrogante e inconformado, e pressionado na terra se volta contra os homens. Adorei o versátil Gary Oldman, que já havia sido Sid Vicious, como Beethoven, em “Minha amada imortal”. A cena da sonata Kreutzer é algo. A cena em que a surdez é revelada, também. Vestimentas apolíneas para o jorro dionisíaco. Ode à Alegria!

sábado, maio 07, 2005

Incontinência verbal

Sinônimo de logorréia ou seja discurso acelerado, profuso e não moderado que pode estar associado em alguns casos a patologias do foro mental.
Placar de ontem: 8 chopps e um uísque
Comentários inconvenientes: pelo menos 1 terrível
Acabei "A noite do oráculo". Como sempre, o escritor rasga as páginas do livro no final. Rasgo o livro?

quinta-feira, maio 05, 2005

Lidos

Agora, "Bagana na chuva" de Mário Bortolotto e "Notas da arrebentação" de Marcelo Mirisola. Iniciado "A noite do oráculo" de Paul Auster, e ao que parece, vai pelo mesmo caminho dos outros. Um livro só, reescrito muitas vezes.

Sonatas e partitas

Pra quem gosta das suites de violoncelo, tem também as sonatas e partitas para violino solo. Zeno, o personagem de Italo Svevo, é suplantado pelo rival que acaba por ser seu cunhado. Este impressiona a moça cortejada por Zeno tocando a famosa chacona que está entre essas peças. Zeno, também violinista, nunca conseguiu tocá-la direito, e fica com a irmã mais feia (Partita para violino solo No. 2 em ré menor, BWV 1004, "Ciaccona").

Limites

quarta-feira, maio 04, 2005

Existe

PROGRAMA GESTÃO DO LUXO - PGL MBA em GESTÃO do LUXO - FAAP
O MBA em Gestão do Luxo é uma experiência pioneira nas Américas. Destinado a profissionais com sólida formação universitária e reconhecida (5 anos) experiência profissional, visa capacitar o participante nas principais técnicas de gestão dos chamados "bens e serviços de Luxo", que poderão ser utilizadas neste segmento ou em qualquer outra área onde exista a necessidade de focar a gestão em segmentação de mercado, posicionamento, fidelização de clientes e sofisticadas estratégias de qualidade e marcas. Com duração de dois anos e início da terceira turma previsto para fevereiro de 2006, o curso é desenvolvido a partir de três grandes eixos temáticos: O Universo do Luxo; A Gestão de Luxo; A Estratégia das Marcas e Corporações de Luxo. As aulas são aos sábados e o curso terá 468 h presenciais, 80 h remotas e 40 h de orientação da monografia final a ser apresentada pelo participante, perfazendo um total de 588 h. A seleção da próxima turma será efetuada no início de 2006 através de análise de curriculum e entrevista. A ficha de pré inscrição estará disponível em novembro de 2005, no site Gestão do Luxo. Após o preenchimento e envio desta ficha, aguarde um contato por telefone/e-mail. Atenciosamente,
Prof. Silvio Passarelli
Carlos Ferreirinha
Diretor da Faculdade de Artes Plásticas - FAAP
Coordenador do Programa Gestão do Luxo - FAAP

Palpite infeliz

Placar de ontem: 8 latas de cervejas
Comentários inconvenientes: 6

terça-feira, maio 03, 2005

Violoncelo

Está se falando muito no recital de Antonio Meneses tocando as seis suites de Bach para violoncelo, com as introduções brasileiras. Há mil anos ouço as do Rostropovich, e até vi o cara tocar uma ou outra no Cultura Artística. A versão do pobre Casals, amigo do Picasso e daquela turma que aparece no Modigliani*, que as tirou do ostracismo, é vista como romântica, exagerada nos vibratos, comprida no fraseado e assim inadequada. Parece que os românticos tendem a emendar as frases mais do que fariam os barrocos, alongando-as além da conta, matando sua respiração. O próprio Meneses já avisou, pra não lhe encherem o saco, que sua interpretação é pessoal. É pra quem pode. O espetáculo de um sujeito, tocando o violino gigante, sozinho, com aqueles movimentos enormes, vigorosos e agéis, tirando aquele sonzão encorpado, é de meter medo.

*Ô filme falso, que divide o mundo em pintores que vendem e não vendem, que inventa uma competição ridícula entre eles, e reduz o herói a um trouxa que tenta resgatar a "honra" da mulher com uma certidão de casamento...
Haloscan commenting and trackback have been added to this blog, e me fez perder os poucos e bons comentários que eu tinha.

Pecus voa

Quando eu era moleque, a minha casa era no alto de uma ladeira, e meu pai tinha plantado na sua frente, sem muita conseqüência, um pé de pinus, que cresceu rápido e enorme. Eu sei que numa daquelas intermináveis tardes de bundação, quando deveria estar fazendo a lição, olhando aquela árvore percebi que de um certo pergolado, eu poderia subir nos primeiros galhos. Dos primeiros galhos notei, meu, a árvore era uma escada! Fui subindo com alguma velocidade e com certo frio na barriga, parando de tempos em tempos para sentir as cargas e a resistência da estrutura, e constatei que o enorme caule (nem dá pra chamar de tronco) era incrivelmente flexível, e oscilava como uma vara. Quanto mais eu subia, maior era a amplitude do movimento horizontal de balanço, até que cheguei ao que me pareceu o mais alto possível com alguma segurança, os galhos da espessura de varas. Devia estar a uns quinze ou vinte metros de altura, e a árvore era um pêndulo lá em cima com uma amplitude de uns dois metros, o que era imperceptível lá de baixo. Saí pra fora da copa, e a vista, a sensação, eram incríveis. O balanço era causado pelo vento, que tensionava a árvore como um arco, até o ponto em a mola vencia a pressão e arremetia, gerando um movimento rítmico (mhs?). E era demais olhar pra baixo e perceber aquele longo tronco se curvando, para um lado e depois outro. Tornou-se um hábito. Até que a árvore ficou inconveniente, o vizinho reclamando das pinhas e agulhas, a calçada rachando, atrapalhando as espatódias, e foi cortada.

Gerhard Shnobble, Spirit, Will Eisner, 1948

segunda-feira, maio 02, 2005

Vicia?

Levei trabalho pra casa esse fim de semana, e como todas as vezes que faço isso fiquei embaçando e sofrendo na luta contra a preguiça, o bom e velho inferno particular. A cada pequena distração ou interrupção do raciocínio: blog. Esse negócio é uma verdadeira draga de tempo. Entra-se por aqui, vai-se para lá, e é fácil perder-se nesse labirinto sem fim. Amarrei o meu fio de Ariadne no frankamente e no carne crua, meus referenciais acidentais desde o início, e devo ter feito os seus sitemeters pularem um pouco. Fui parar na casa do cacete (legal esse). Blog vicia? Os defensores da discriminalização da maconha dizem que a droga não dá dependência física. Acredito que não faça a menor diferença quanto à nocividade do vício, mas talvez facilite um pouco o abandono. Fumei muita maconha quando era moleque e hoje percebo que isso me atrapalhou bastante. Fiquei estagnado uns três ou quatro anos, sem reconhecer o vício, e acho que saí meio por acaso. Parei de comprar, fui pro simidão – o que reduz bastante o consumo – e percebi, que quando alguém me “fazia uma presença” ou me dava uma “carinha”, como se dizia, eu fumava todo dia até acabar, e não havia nada que me impedisse de fazer isso. Há decadas nem lembro que existe. A melhor definição do vício da maconha vi no Junky, do Borroughs. Segundo me lembro, ele encontra em alguma passagem um viciado em maconha, que lhe diz algo como “a vida fica absolutamente sem graça sem maconha”. A melhor descrição do alcoolismo que vi é a de Memórias Alcoólicas do Jack London. Ficar cavocando blog tem algo a ver com ficar batendo a cabeça na parede.

Fim de semana


Pecus levou trabalho pra casa.

domingo, maio 01, 2005

Perrengue absoluto

Horas atrás, no meio da madrugada, fui buscar duas meninas numa festa de 15 anos num espaço (não mais bufê) na Vilompa. Lembrei de um perrengue absoluto do fim do ano passado. Fui com a digníssima à elegante festinha de um amigo, na qual foram servidos acepipes leves em uma mesa, mais um jantar civilizado em cumbucas pequenas muito práticas para se comer em pé, além de um serviço de bebidas eficiente até demais. Tínhamos que pegar quatro meninas em uma festa de 15 anos, e assim alongamos nossa permanência. Mais para o fim, depois que o meu amigo embarcou aliviado o pai no elevador, surgiu o inevitável fininho (sim crianças, isso não muda nunca), e tive a idéia infeliz de dar um saudosista pega. O fim da festa foi animadíssimo, e a minha mulher observava divertida a minha atuação pra lá de simpática. Fomos embora antes de vários convivas – ponto pra mim – e com a parte sã do casal ao volante, rumamos para a festa das meninas. Durante o trajeto começou o revertério e comecei a passar mal. As meninas embarcaram, e concentrado ao máximo, apenas balbuciei um boa-noite inaudível virado pra frente e imóvel. As quatro a mil por hora comentando a festa nem notavam que eu existia. Consegui, em total desespero, manter o equilíbrio precário até entrarmos na garagem. Como sempre elas chisparam do carro para casa, e finalmente me vi só. Abri a porta do carro e a mistura de muito vinho, pouca comida, e o d2, partiu em violenta erupção do meu estômago para o chão da garagem, o que não acontecia comigo há décadas. Dei graças aos céus por ninguém ter visto. Que humilhação, que trauma seria para a filha mais velha. Em algumas festas do fim da minha adolescência, por causa de misturas semelhantes, me vi agarrado algumas vezes a privadas estranhas, enquanto o banheiro rolava morro abaixo. Não esperava que fosse acontecer de novo.