Segunda-feira de madrugada, um pouco antes das cinco, estava eu saindo de bicicleta para ir remar quando deparei com uma latinha de cerveja vazia, na cobertura de cerâmica da caixa de cartas, que fica meio escondida num canto do jardim da frente. Era de uma marca que eu não costumo comprar, e fiquei preocupado que alguém tivesse entrado em casa à noite, tomado a cerveja e deixado ali, de propósito, pra assinalar uma presença maligna. Como as fitas de vídeo do filme Cachê, pra quem não se lembra, longas gravações da frente de uma casa, entregues na casa só para intrigar a família. Cogitei das possibilidades. Uns dias atrás perdi um chaveiro que eu montei pra usar com a bicicleta, com as chaves da casa, e uma leve e controlada paranóia se instalou, de que alguém pudesse ter achado, identificado e usado. Lembrei que o meu cunhado tinha vindo almoçar no sábado, e havia uma improvável possibilidade dele ter chegado tomando a cerveja e largado lá. Transferi a preocupação para a minha mulher, e esqueci do assunto. Ela também se preocupou, consultou o irmão, que negou a deselegância. A nossa empregada solucionou o mistério. Ao sair no sábado à tarde, encontrou a latinha na calçada, e zelosa, mas nem tanto, porque devia estar com um pouco de pressa, pegou a latinha e deixou lá para jogar fora depois, ou “reciclar”, sei lá, que ficou o domingo inteiro ali, sem ser notada.
quarta-feira, fevereiro 28, 2007
terça-feira, fevereiro 27, 2007
Milhas acumuladas
Este fim de semana cozinhei pra minha sogra. O aniversário dela caiu no Carnaval, e lamentavelmente não pudemos estar juntos. Também era o aniversário de uma netinha dela, filha do meu cunhado, que teria sua festinha outro dia. Minhas filhas fizeram um bolo e brigadeiros, e eu me arrisquei – ou melhor, arrisquei a sogra e o cunhado – num ragu de cordeiro que já tinha executado uma vez, com algumas falhas que pretendia corrigir.
Usei uma receita que achei a esmo na internet, que me pareceu simpática porque recomendava tomates passados comprados na xepa da feira para o molho, e que seu usasse a carne de carneiro mais gorda que se encontrasse. Me fiando nessas recomendações, da primeira vez fui ao açougue e comprei uma paleta desossada, que me pareceu mais de um carneiro do que de um cordeirinho. Cortei em cubos sem maiores preocupações, e as moças reclamaram dos nervos e gorduras na carne misturada ao molho.
Desta vez comprei as duas únicas paletas que encontrei no supermercado, com osso e de cordeiro mesmo. Sabia que a perda ia ser grande, e daqueles mais de três quilos deveria sobrar pouco mais de um quilo de carne absolutamente limpa. Fiquei um tempão desossando e limpando aquela pouca carne, lamentando os lindos nacos descartados por estarem entremeados de um simples nervinho. A operação me custou três pequenos cortes na ponta dos dedos da mão esquerda.
A receita é simples. Peguei os cubos de carne lavados e secados, joguei todos de uma vez numa panela com azeite quente, para dourar. Depois do início do processo, pus as ervas recomendadas, alecrim e orégano fresco em quantidade menor que da primeira vez, que ficou exagerado, e um pouco de sal e pimenta do reino. Era um dos passos que eu pretendia aprimorar, mas fiquei com preguiça. Em vez de pôr para dourar toda a carne ao mesmo tempo, pensei em “saltear” aos poucos, três ou quatro cubos de cada vez, pra não soltar toda aquela água como aconteceu da primeira vez, o que impede de dourar e põe a carne a cozinhar. Repeti o erro, mas ao meu lado estava descascando e picando os tomates a nossa cozinheira, que sugeriu tirar o excesso de líquido, e ir pondo aos poucos, o que eu fiz e deu muito certo. Dourada a carne, pus os dois copos de vinho branco como recomendado, e esperei evaporar. Ao ver toda a imensa quantidade de cebola picada – oriunda de uma única translúcida redoma – achei melhor refogar tudo aquilo no azeite, antes de pôr na panela com os dois quilos de tomate descascados, limpos de sementes e picados. Ficou um molho de macarrão aceitável, nenhuma princesa reclamou da ervilha sob o décimo-sexto colchão de plumas de ganso.
Usei uma receita que achei a esmo na internet, que me pareceu simpática porque recomendava tomates passados comprados na xepa da feira para o molho, e que seu usasse a carne de carneiro mais gorda que se encontrasse. Me fiando nessas recomendações, da primeira vez fui ao açougue e comprei uma paleta desossada, que me pareceu mais de um carneiro do que de um cordeirinho. Cortei em cubos sem maiores preocupações, e as moças reclamaram dos nervos e gorduras na carne misturada ao molho.
Desta vez comprei as duas únicas paletas que encontrei no supermercado, com osso e de cordeiro mesmo. Sabia que a perda ia ser grande, e daqueles mais de três quilos deveria sobrar pouco mais de um quilo de carne absolutamente limpa. Fiquei um tempão desossando e limpando aquela pouca carne, lamentando os lindos nacos descartados por estarem entremeados de um simples nervinho. A operação me custou três pequenos cortes na ponta dos dedos da mão esquerda.
A receita é simples. Peguei os cubos de carne lavados e secados, joguei todos de uma vez numa panela com azeite quente, para dourar. Depois do início do processo, pus as ervas recomendadas, alecrim e orégano fresco em quantidade menor que da primeira vez, que ficou exagerado, e um pouco de sal e pimenta do reino. Era um dos passos que eu pretendia aprimorar, mas fiquei com preguiça. Em vez de pôr para dourar toda a carne ao mesmo tempo, pensei em “saltear” aos poucos, três ou quatro cubos de cada vez, pra não soltar toda aquela água como aconteceu da primeira vez, o que impede de dourar e põe a carne a cozinhar. Repeti o erro, mas ao meu lado estava descascando e picando os tomates a nossa cozinheira, que sugeriu tirar o excesso de líquido, e ir pondo aos poucos, o que eu fiz e deu muito certo. Dourada a carne, pus os dois copos de vinho branco como recomendado, e esperei evaporar. Ao ver toda a imensa quantidade de cebola picada – oriunda de uma única translúcida redoma – achei melhor refogar tudo aquilo no azeite, antes de pôr na panela com os dois quilos de tomate descascados, limpos de sementes e picados. Ficou um molho de macarrão aceitável, nenhuma princesa reclamou da ervilha sob o décimo-sexto colchão de plumas de ganso.
segunda-feira, fevereiro 26, 2007
sexta-feira, fevereiro 16, 2007
quarta-feira, fevereiro 14, 2007
Bilac
Hoje no almoço meu pai declamou um soneto que aprendeu com meu avô, por este atribuído a Bilac:
VIDA PRIVADA
Cigarro aceso, o fumo em espirais
Formando vai a nuvem azulina.
O cabra, sobraçando alguns jornais,
Arria a calça e senta na latrina.
Enquanto caga, lê os editais,
Notícias, telegramas, a mofina,
Lê depois os anúncios garrafais,
E peida, com saudade da menina.
A coisa aperta um pouco, apavorante.
Uma careta faz, franze o semblante,
E sai um cagalhão que ao cu faz mágoa!
Está tudo acabado. Ele suspira,
A ponta do cigarro fora atira,
Levanta, limpa o rabo, e puxa a água
Da mesma fonte, a lição de português:
Ao bilheteiro:
"Por favor, uma passagem para Guaratinguetá".
Que responde, pedante:
"Em primeiro lugar, não é Guaratinguetá, mas Guaratingüetá. Em segundo lugar, o trem acabou de partir".
Ao que replica:
"Então cagüei-me".
No post anterior, sim, é o Copan. O prêmio é um expresso no Café Floresta, a todos os acertadores.
terça-feira, fevereiro 06, 2007
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