
“In January 1609, Grotius attended a series of three-way meetings in The Hague between Oldenbarnevelt, the VOC directors and members of de Dutch Admiralty Board. He was invited on the basis of hes credentials as VOC lobbyst, not in his official capacity as Advocate-Fiscal of Holland. Oldenbarnevelt had called the meetings to discuss the implications of a Truce treaty for the VOC and, more importantly, to reassure its directors that they could continue to 'borrow' warships, guns and ammunition from the Dutch Admiralty Board." (Martine Julia van Ittersum, "Preparing Mare Liberum for the press: How Hugo Grotius Rewrote Chapter 12 of De Jure Praedae, November 1608 - February 1609.").
É uma nota de rodapé de um artigo recente dessa Martine, uma historiadora holandesa. VOC é a Companhia Holandesa das Índias Orientais, a cliente do Hugo, para quem escreveu o De Jure Praedae, do qual o Mare Liberum é o capítulo 12, a fim de justificar a captura da nau portuguesa Santa Catarina (um monstro de 1400 toneladas, com 700 pessoas a bordo), no estreito de Singapura, em 1603.
No mesmo artigo ela conta que a trégua entre Holanda e Espanha (Felipe III na época era o rei também de Portugal) seria arbitrada pelo rei da França e o rei da Inglaterra, e havia a possibilidade real das atividades da VOC serem afetadas pelas negociações. O propósito inicial do trabalho era obter uma sentença favorável no tribunal do almirantado a respeito da legitimidade do butim, e persuadir acionistas protestantes e sisudos preocupados com a honestidade da façanha a aceitá-la como justa. Obtida a decisão e confortados os acionistas, com a evolução das negociações da trégua a VOC passou a instar Hugo a publicar o capítulo 12, a fim de manipular a opinião pública e os intermediários da trégua, para que o tratado não impedisse suas atividades na Ásia. Só que o negociador da trégua pela Holanda era o Oldenbarnevelt (um nome super legal), o chefe do Grócio na carreira pública, que entendeu que a divulgação do Mare Liberum seria nociva às negociações, e mandou o Grócio adiar a publicação até a assinatura (em abril de 1609), e expurgá-la de referências à América e abrandar os termos ofensivos à Espanha e Portual. Em compensação, excluiu da trégua as operações bélicas da VOC na Ásia (“privateering”, embarcações militares privadas comissionadas pelo governo holandês), atendendo assim aos interesses da Companhia. Quem saiu perdendo foi o Maurício de Nassau, que era o comandante militar da Holanda e tinha o seu poder e prestígio dependentes da guerra, e depois veio pegar o Grócio na curva.
Certamente podemos imaginar a heróica Pereira nas reuniões da VOC com Oldenbarnevelt, ou melhor ainda, em uma reunião secreta do Oldenbarnevelt (adoro esse nome), Jeannin (o representante da França) e Wotton (da Inglaterra), para negociar a emenda secreta ao tratado de trégua que garantiu os interesses da VOC.