terça-feira, dezembro 25, 2007

Pacote difícil

Acabei de ler “O jardineiro fiel” e rever o filme. Os dois são ótimos, a mesmíssima história contada em linguagens diferentes, uma experiência profunda. A força das imagens da África com as cores estouradas e a câmara na mão, ao som da música dos coros e tambores. Dou a mão à palmatória e o Ralph Fiennes faz perfeitamente o papel do Justin Quayle. Quem tem bons olhos para o cinema percebeu logo, eu tive que ler o livro pra compreender o personagem tão fielmente traduzido. O livro explica uma série de códigos de classe e as sutilezas dos diplomatas ingleses na condução de suas guerras, como uma passagem em que se acusa os recém saídos da universidade de terem sotaques insossos, ou o estilo tory de fazer um relato, como se fosse uma lista de compras. Não lembrava que a Tessa era advogada. Tem uma pesquisa sólida sobre a indústria farmacêutica, antecipando as denúncias de Marcia Angell.

Mas todo esse pacote foi atropelado pelo maravilhoso “A vida dos outros”, assistido meio por acaso enquanto procurávamos um lugar pra comer no 23, quase todos os restaurantes fechados, quando resolvemos checar a renovada Sala Ig, ex-Uol (uma vez fiameta, sempre fiameta), e tinha lá uma sessão dali a quarenta minutos. Só sobrava tempo para um x-salada no fiel hamburguinho. Sobre o filme não dá para falar pouco. Rendeu uma conversa de uns quinze minutos com o sócio, na manhã do 24. 25, “O amor nos tempos do cólera” no shopping deserto. Feliz Natal.

sábado, dezembro 08, 2007

Feérica


A gloriosa blogueira dramaturga cronista arquiteta Lúcia Carvalho publicou dias atrás em sua coluna mensal na revista Morar, da Folha, um ataque às luzinhas de natal, quando mal se iniciava a temporada. Agora, que elas efetivamente já tomaram conta da cidade, depois de intensa e ponderada reflexão, falo das minhas perplexidades sobre o tema profundo e complexo, com o perdão da flexibilização das aliterações em x. É claro que ela tem razão. É infantil, é cafona, e além disso um enorme e inútil desperdício de energia, totalmente incorreto nesses tempos de aquecimento global. Mas temos que assumir que é lindo, com sempre são as luzes na escuridão, especialmente com o intencional efeito de joalheria. Diamantes, pérolas, rubis e esmeraldas sobre o veludo negro da noite. A cidade à noite, sóbria e séria, de repente vira uma animada quermesse, um parque de diversões, um baile mítico e atemporal que incita o departamento de fantasias a tomar conta do ambiente mental do cidadão. Todo ano penso em comprar na Santa Ifigênia uma rolão dessas luzinhas e empetecar a minha casa, mas sempre deixo pra lá. No máximo as modestas coloridas piscantes da árvore de natal que temos já há um tempão. Falta pra mim, como falta pra muita gente, assim como provavelmente à própria Lúcia, a convicção necessária pra superar a autocrítica do ridículo que é despender dinheiro, tempo e energia elétrica numa inutilidade fútil e cafona dessas. Mas é de se admirar quem se dá ao trabalho de contribuir para a iluminação espiritual de todos, especialmente quando se faz sem intuito de lucro, como o comerciante que só quer chamar a atenção para o seu negócio. Fiquei impressionado com a iluminação das pontes sobre o Rio Pinheiros, ao que eu saiba inéditas. Será que o Kassab está em campanha? E não posso concordar com a idéia da Lúcia de que para organizar o bandalho e proteger o landscape seria melhor que os arquitetos prevessem no projeto a localização de luzes natalinas fixas. Seria esquisito como maquiagem permanente.