quinta-feira, novembro 30, 2006

Vamos ao teatro

Outro dia fui ao teatro por acidente, acompanhando alguns amigos. Não pretendia entrar, queria só ficar tomando cerveja no bar da entrada. Era um monólogo de um importante autor estrangeiro, e eu e metade do grupo não tínhamos a menor intenção de nos concentrar em tanta seriedade naquela hora. Depois de uma ou duas cervejas, o amigo que puxou o programa, já com os ingressos comprados, insistiu para que fôssemos todos, que seria rápido, indolor e até divertido. Considerando a sem-gracice de ficar esperando naquele bar bobo tomando cerveja até a hora de jantar, acabamos de última hora entrando na peça. Depois de uns bons cinco minutos no escuro completo em silêncio, começou o monólogo, muito bem interpretado, o texto excelente, uma terrível história de amor, um suplício interminável pra quem queria comer e beber. Qual não foi nossa surpresa ao constatar, no fim da peça, que o mentor e inventor do “vamos ao teatro”, no último momento ficou de fora, tomando cerveja com outros amigos que não assistiram o monólogo.

quarta-feira, novembro 29, 2006

Dim dim donde

Outro dia falei de uma casa no meu quarteirão que havia sido vendida, e vendo a placa do arquiteto, achei que ia ser reformada. Que nada. Está sendo completamente demolida. Talvez seja o certo mesmo, o valor da velha construção em relação ao terreno é tão pequeno que não compensa mantê-la em pé. Mas que dá um sentimento “Saudosa Maloca” dá.

terça-feira, novembro 28, 2006

Parar

O tempo tudo resolve, transforma tragédias e perdas em doces memórias. Como parar de fumar. O primeiro dia é insuportável, o segundo dia é insuportável, o terceiro dia é insuportável, quando completa um mês se vê que foi possível agüentar. Daí vem a fase da agressividade, o inconformismo, a projeção nos outros da fonte da dor. Depois de seis meses passou, vida normal. Pelo menos com o cigarro foi assim.

segunda-feira, novembro 27, 2006

No donut for you

Sábado na regata chegamos 22 segundos na frente do primeiro colocado, o que dá uns cem metros de distância. Fomos os terceiros no tempo real, e melhoramos uma posição no geral dos barcos, pois tínhamos sido terceiros na nossa eliminatória. Como houve duas eliminatórias que classificaram apenas dois barcos, e fomos os segundos da repescagem, significa que estávamos com o quarto tempo real, pois na repescagem chegamos na frente do que fora segundo na nossa eliminatória. Mas caímos para quinto no tempo corrigido. No tempo real, primeiro foi um barco categoria “b” (são faixas de idade), o segundo foi um valoroso barco “d”, e em terceiro o nosso, “c”. Um “e” e um “f” passaram na nossa frente no tempo corrigido, e chegamos na frente só do outro “c”. Estou evoluindo, e acho que o handicap favorece as classes mais idosas, o que dá uma boa perspectiva de futuro.

Chegando em casa rolou o almoço de aniversário de dezessete anos da minha filha mais velha, e fiquei impressionado com o baixo consumo de bebida alcoólica. Quase nada. O que saiu mais foram aqueles sucos de caixinha, chamados néctares de frutas, dos mais variados sabores e muito, muito doces, com bastante vantagem sobre os refrigerantes.

E domingo assisti, segundo a recomendação da Anna, o documentário do sumido Herzog chamado “O homem urso”, sobre um sujeito um tanto desajustado que elege como missão na vida proteger os enormes e ferozes ursos pardos do Alasca. A utilidade da sua missão é duvidosa e pouco realista, pois a população de ursos de 35 mil indivíduos é estável e protegida. Depois de treze verões acampando sozinho entre os ursos, registrando belíssimas imagens em vídeo, ele e a namorada são mortos e devorados por um velho urso faminto. São os elementos de uma reflexão interessantíssima do cineasta alemão.

quinta-feira, novembro 23, 2006

Pequenas memórias

Sábado passado depois de remar fui à FNAC com as minhas filhas, a mais velha comprou a Rolling Stone 2, a mais moça queria comprar a primeira temporada do OC, e eu comprei, com vinte por cento de desconto, as pequenas memórias do Saramago. É um livro pequeno, e eu li de uma tacada só, entre sonecas e muitos líquidos, seguindo as instruções do técnico para a regata do dia seguinte. Visivelmente a raiz é um trecho do discurso proferido pelo Saramago ao receber o Nobel em 1998, que está senão reproduzido, pelo menos reescrito no livro. Até a incrível frase da avó, “o mundo é tão bonito e eu tenho tanta pena de morrer”, assim como a história de levar os bacorinhos para a cama, as noites ao relento e muito mais. Não conto pra não perder a graça. Não é um livro fácil, porque a reconstrução das memórias da infância e da adolescência segue a ordem do seu próprio fluxo, nada cronológica, e as imprecisões não são atenuadas ou arredondadas, mas confessadas e ampliadas, como as fraquezas do autor. Alguns episódios até se repetem.

quarta-feira, novembro 22, 2006

Falso

Outro dia um amigo me contou o seguinte caso. Ele estava em uma cidade oriental, talvez na Tailândia, numa rua cheia de lojas vendendo todo o tipo de falsificações, de boa qualidade, produtos de marcas famosas. Em meio a tais lojas ele encontrou uma galeria de arte chamada de “o rei do fake” ou algo assim. Lá havia centenas de cópias de quadros de autores famosos, e uma grande equipe trabalhando em reproduções a partir de livros e fotografias. Viu um “Botero” pelo qual se interessou, um sonho de consumo seu. Poderia comprar ali, por quinhentos dólares, um quadro cujo original valeria em torno de mil vezes este valor. A primeira objeção que fez ao impulso, foi o fato de que teria que explicar aos amigos, que o grande Botero era falso, uma brincadeira. Depois raciocinou que um quadro falso na parede implicaria uma dúvida sobre toda a sua coleção, que tem uma finalidade de investimento. Uma coisa leva a outra, começou a questionar arte como investimento, pois afinal, o que não poderia ser falsificado? Certificados de autenticidade e procedência podem ser sempre falsificados, e, por exemplo, mesmo uma foto da obra ao lado do autor, pode sustentar a multiplicação criminosa de cópias. Daqui a duas ou três gerações, quem poderá atestar a origem posta em dúvida de uma obra, com artistas, galeristas e especialistas mortos?

terça-feira, novembro 21, 2006

Classificado

Domingo teve a eliminatória do barco de um, e do barco duplo, provas que tinham muitos inscritos. Eu ia correr a prova de single. Na última hora o treinador todo-poderoso perguntou se eu remaria também um double. Concordei, e no domingo de manhã ele me disse que tinha abortado minha participação no single. Não sei se achei bom ou ruim, é a vantagem de ter alguém que decida por você. Acabei correndo no double com um cara novo no clube, vindo há alguns meses de outro estado, super bom, que rema há décadas sem parar, com a estatura um pouco baixa, o que significa uma remada muito rápida. Ele estava meio desapontado de remar com um iniciante, e de não remar na prova de single, sem saber porque não tinha sido inscrito. O seu parceiro deveria ser um ótimo remador do clube, que se recusou a entrar dizendo que não participa de prova em “barco de rampa”, improvisado, o que faz muito sentido. Dei uma volta com o cara, tentamos algumas largadas, o que ainda não aprendi a fazer direito, e ele ficou bastante preocupado. Nossa primeira bateria foi um desastre, mas só o primeiro estaria automaticamente classificado. Todos os outros iriam para a repescagem. Perdemos muito tempo na largada, e eu, querendo acompanhar o sujeito sem fazer feio, fiz uma força enorme no ritmo acelerado dele. Lá pelos três quartos da raia o gás acabou e eu travei. Batemos remos, mas conseguimos retomar, e chegamos em terceiro. Ele reclamou que eu estava fazendo força demais, dando trancos e segurando o barco. Antes da segunda regata, entramos cedo na água, treinamos mais algumas largadas, algumas saíram boas. A largada na prova foi medíocre, mas ele baixou o ritmo, eu diminuí a força, e o barco andou bem melhor. Baixamos o tempo em nove segundos, e ficamos em segundo lugar, na frente do segundo da nossa eliminatória. Temos alguma chance de brigar pelo terceiro no próximo sábado.

sexta-feira, novembro 17, 2006

Auto-flagelação

Estou com as mãos em péssimo estado porque estou treinando todo dia com o four e o single, para uma regata que vai haver na semana que vem. Ao remar o mais rápido possível, com remos diferentes, novas áreas de atrito são acionadas. Onde até a semana passada haviam civilizados calos, surgiram bolhas, que rasgaram e tenho seis buracos abertos nas mãos, ardidos e doloridos. Quem vê pensa que eu pus as mãos na grelha de uma churrasqueira. E provavelmente, não tenho chance nenhuma.

terça-feira, novembro 14, 2006

Sexo selvagem

Falando em sexo, estive pensando sobre “O Selvagem da Ópera”, do Rubem Fonseca, que li uns dias atrás. Não gosto nem do Rubem Fonseca, nem de ópera, e muito menos do Carlos Gomes. Assisti uma vez uma luxuosa montagem do Guarani no teatro Alfa, com legendas e tudo, e o tenor gordinho com um tórax de plástico com barriga de tanquinho cantando em italiano foi das coisas mais deprimentes que já vi na vida, vários furos abaixo dos índios de faroeste italiano. Segundo o livro, Carlos Gomes é um fruto do seu tempo. Protegido do imperador Pedro II, pegou o fim do império e ficou órfão; sua arte também estava moribunda, mais moço que ele, de renome, que eu saiba (e não sei nada deste assunto), só o Puccini; e a ópera padecia de ser uma forma de arte popular e decadente, que fazia todas as concessões possíveis ao público, aos mecenas (como se chamavam os patrocinadores de então) e empresários. Os libretos eram todos horríveis, previsíveis, o herói e a heroína com um amor impossível que acabava em morte, num contexto histórico sempre totalmente deformado e ridículo. Mas porque sexo? Pegando o mote do Saramago, e da força indiscutível que o impulso erótico exerce sobre humanos e outros animais, estive pensando na questão da miscigenação e preconceito. Carlos Gomes era muito moreno, e com certa fantasia ou marketing, se dizia descendente de índios. Era a época do romantismo indigenista ou indianista, e o país tentava construir sua identidade manipulando a cultura nativa, o que pegava bem com os europeus. Segundo o Rubem Fonseca era boa pinta e mulherengo, e teve inúmeras mulheres, principalmente cantoras e condessas aficcionadas da ópera. As européias, ainda que tivessem preconceito contra a pele escura do artista, sucumbiam ao seu charme e físico. É o que sempre aconteceu, o preconceito é vencido pelo impulso irresistível, e a miscigenação acontece. Não adianta discutir com o sexo, como diz o Saramago. A tese do Rubem Fonseca é que o pobre Carlos foi tragado por este gênero artístico menor e decadente, e sua necessidade de sucesso e atenção, por um suposto complexo de inferioridade de sua rude origem cabocla, o fez compactuar com as concessões que o gênero exigia, e viver em altos e baixos ao sabor dos aplausos e apupos ditados por circunstâncias que quase nada tinham a ver com arte. Um homem do seu tempo, que como Freud, morreu de câncer na boca, possivelmente causado pelo vício do charuto.
Tem um post novo do Fitzwilliam muito engraçado sobre Citibank e Odair José.

quarta-feira, novembro 08, 2006

Sábado no Estadão

Que importância tem e o que significa o sexo para Saramago?

O sexo é. Especular sobre a importância e o significado dele não levará a outra conclusão: o sexo é, e não só é, como tem as suas razões. Não discutamos com o sexo, ele acabará sempre por ganhar a partida. Às vezes, para justificar as nossas tentações, dizemos que a carne é fraca. E não se repara que se a carne cede é porque o espírito já havia cedido antes...

segunda-feira, novembro 06, 2006

Horário de verão

Bem que eu tentei dormir o máximo possível ontem, porque eu sabia que iria remar às quatro da manhã, horário de padeiro. A lua cheia se pondo exatamente na direção da raia, causando todos aqueles reflexos, e depois na direção oposta o sol nascendo, compensaram um pouco o absurdo de acordar àquela hora. É uma verdadeira violência.

quarta-feira, novembro 01, 2006

Estresse


A propósito da recente discussão sobre os controladores de vôo e suas vicissitudes, vale a pena ver ou rever o excelente "Pushing tin" (não lembro o título em português), de 1999, com personagens tirados da atividade mais estressante que existe. De brinde a Angelina Jolie de calça de couro.