Há uns três ou quatro anos fui convidado para ir a uma rave numa praia em Santa Catarina. Ia ser aproveitada uma festa que se repetia ali com alguma freqüência para a surfistada e playboys para o lançamento de um instituto de beleza, um sistema de tratamento de pele ou algo assim. Haveria uma ala “vip” separada para os convidados. Chegamos na noite anterior, fomos hospedados num hotel, e no dia seguinte fomos ao local onde ia ser a festa, que sempre era feita na lua cheia. Era um belíssimo bar de praia, muito bem instalado, uma construção rústica de madeira já acinzentada, com restaurante, bar e lounge, que estava sendo ampliado com grandes tendas de lycra. Ficava numa parte meio deserta da praia só ocupada pelos surfistas. Estava um lindo dia de sol, ondas pequenas de qualidade, um verdadeiro paraíso. A organização da festa era feita por dois surfistas, um dos quais era modelo e participou do comercial do tal lançamento, feito ali na praia dias antes, que ia ser exibido na festa. Por volta das duas da tarde, chegou a notícia de que o ministério público estadual tinha obtido uma liminar para impedir a festa por risco de dano ao meio ambiente. Advogados acionados, a ordem foi cassada. Horas depois, chega outra ordem, obtida pelo ministério público federal, para os mesmos fins.
A festa foi mudada para a pousada da mãe do organizador que não era o modelo, que ficava na parte mais ocupada da praia, a algumas quadras do mar. Era um lugar luxuosíssimo, fazendo um tipo “Hamptons”, em madeira branca, e onde estavam hospedados os donos da festa. Tinha um grande jardim, uma vista distante do mar, mas não fazia muito sentido todo aquele dinheiro empatado naquele fundo de praia. Quando chegamos à noite, percebemos que apesar de toda a bebida oferecida pelos patrocinadores, ninguém bebia nada e todos estava suadíssimos com garrafinhas de água na mão. Todos tinham tomado ecstazy. A ala “vip” ficou com as instalações da pousada, deck, bar, restaurante, piscina, e uma escadaria levava ao jardim, onde a festa e seus banheiros químicos estavam. Dos taludes entre o deck e a pista volta e meia despencava um rolando, que além de ecstazy tinha cheirado lança-perfume. Lá embaixo o pessoal dançando tinha algo a ver com a noite dos mortos-vivos, e era docilmente manipulado pelos DJs. Foi a primeira vez que vi um DJ desses que criam sua própria música, trabalhando. Não entendi bem como funciona, mas me pareceu que ele tem bastante controle da dinâmica, e vai acrescentando ou tirando camadas de música como quer. Tira tudo, deixa só uma frasezinha se repetindo, a pista cai, daí vai acrescentando, até que despeja o máximo e os mortos-vivos começam a pular e gritar. É muito bacana. Daí a polícia chamada pelos vizinhos começou a fazer parte da festa. Vinha a música baixava. Ia embora, voltava ao máximo, e os zumbis junto. Várias e várias vezes, naquela noite sem fim e sem cansaço, com uma linda lua cheia. De manhã nos perdemos das vans dos convidados e voltamos a pé para o nosso hotel, na praia vizinha.