quinta-feira, julho 12, 2007

Despertador


Assisti anteontem a “The Painted Veil”, baseado em romance de Somerset Maugham, que já havia sido filmado em 1934, com Greta Garbo. Tem o título traduzido por “Despertar de uma paixão”. É uma tradição dos distribuidores nacionais este tipo de ridículo, talvez seja o preciosismo de manter o título da primeira versão. “Despertar” é um verbo que se usa pouco, um resquício de uso com o rádio-relógio, ex-despertador, cada vez mais alarm-clock, tendendo a alarme.

Na tela escura o que primeiro aparece é o “WB” que todos conhecem. O “B” sai para o lado e do bico central do “W” salta um pingo vermelho, revelando a “Warner Independent Movies”. Em seguida os créditos mostram como produtores as estrelas do filme, a linda Naomi Watts, ex-namorada do Rei Kong, e Edward Norton, do “Clube da Luta” . É uma grande produção, filmada na China, com cidade cenográfica e muitos extras com roupas de época, naquelas montanhas de pedra pontudas em meio as quais corre um rio verde - o que deve ser o mais manjado cartão postal chinês depois da Grande Muralha - , ou seja, nada barato. É engraçado a Warner montar uma companhia de filmes independentes, para abocanhar também esta beirada do mercado, e imagino que a produção dos atores, do ponto de vista de sua contribuição econômica, deve se resumir a trocarem seus cachês milionários por participação nos lucros.

O filme é sério, sóbrio, bonito de ver, sem cenas de nudez, com a questão central de costumes já superada, do adultério como crime, mas ainda assim traz relevância pela maneira que olha as nossas fraquezas. Gostei muito da cena em que o inglês, com sua concubina chinesa e o casal protagonista relaxados e bêbados, ao atender ao pedido da heroína para que perguntasse à moça o que ela tinha visto nele, obtém a resposta em chinês e traduz: “disse que sou um homem bom”. A heroína replica com desdém algo assim: “até parece que as mulheres se apaixonam pelos homens por causa das suas virtudes”. A frase deve ter ficado ótima na Greta Garbo.

domingo, julho 08, 2007

Beijos voadores


Assisti ontem a outro lançamento em DVD, “Beijos Proibidos” (Baisers Volés), de 1968, o terceiro da série com o personagem Antoine Doinel, segundo se diz o alter ego de François Truffaut, realizada em um período de vinte anos. São cinco filmes, o primeiro de 1959, “Os incompreendidos” (400 coups), o segundo, de 1962, um episódio de um filme de cinco diretores diferentes, “O amor aos vinte anos”, e mais “Domicílio Conjugal”, de 1970, e “O amor em fuga”, de 1979. O ator é sempre o mesmo, Jean Pierre Léaud.

É um filme antigo, de uma época em que a experimentação e a qualidade autoral do filme eram muito valorizadas, e permitia uma linguagem muito pessoal para falar de si mesmo. Não tem uma história no sentido tradicional, mas uma seqüência de acontecimentos mais ou menos independentes entre si, que têm como ligação o desenvolvimento da personalidade do autor, declarações que explicam a sua visão do mundo.