quarta-feira, agosto 30, 2006

Condições anormais de temperatura e pressão

Estou lendo “A vida no limite”, com o sub-título “A ciência da sobrevivência”, de uma fisiologista de Oxford chamada Frances Ashcroft, ciência para leigos. Procura explicar os limites do corpo em situações de altitude, frio, calor, profundidade, falta de ar, esforço, os mecanismos físicos para lidar com essas situações e como tal conhecimento foi adquirido, sempre a custa de muitas mortes. Interessantíssimo pra quem gosta de ciências, como eu, um típico produto do enciclopedismo dos anos sessenta, quando as viagens espaciais, expedições submarinas, e grandes escaladas eram o máximo. Agora, tais atividades, antes reservadas a uma casta de super-homens foram reduzidas a esportes radicais, ou pior, “turismo de aventura”, diversão de fim-de-semana ao alcance de todos. A agradável narrativa é pontuada por casos extravagantes, como um jantar realizado num túnel sob o Tâmisa, quando suas duas pontas se encontraram, em ambiente pressurizado, o que fez com que o champagne não borbulhasse, a não ser depois que os convivas retornassem à superfície, com conseqüências desastrosas. Estou ansioso por chegar ao capítulo que trata de esportes, mas ainda estou nas dificuldades do deserto.

terça-feira, agosto 29, 2006

Rádio brega

Gosto muito de ouvir rádio no carro, pra mim, nada supera a possibilidade de ouvir alguma música inesperada e especial. Mesmo porque é difícil manter o repertório a bordo novo o suficiente para não se tornar uma tediosa repetição. O fato é que há muito tempo não me dedico mais a garimpar e acumular música. Ouço as rádios de velho, a Cultura, a Eldorado, e a Rádio Kiss, e quando estou com adolescentes, Jovem Pan, 89, e outras do gênero. Às vezes escuto um pouco de brega genuíno na Tropical, que tem um horóscopo com vinhetas excelentes. Hoje, vindo para o escritório, escutei o impagável adágio do Samuel Barber, a música do Platoon, que já vi parodiado em Casseta & Planeta ao som do dito cujo. Implico um pouco com o Oliver Stone, acho um pouco grandiloqüente e pomposo, assim como o Ridley Scott, que pra mim tem mais ou menos a mesma posição no panteão do cinema americano, mas até hoje me lembro de ter ficado impressionado com a cena em que o William Dafoe caça o colega no mato, e com o adágio que eu não conhecia. É uma peça fácil e sentimental, que pega qualquer um. Apesar da distância no tempo, me lembra o adágio do Albinoni, trilha do cafona Rollerball, que foi gravado junto com o Canon do Pachelbel, pelo Karajan, nos anos 70, gravação que eu imagino tenha sido responsável por erigir o Cânon na melodia mais tocada em casamentos nos Estados Unidos nas últimas décadas. A dúvida é se entregar ou resistir à essa breguice?

domingo, agosto 27, 2006

Joga as cascas pra lá

Ontem fui dormir cedo depois do churrasco na laje, uma verdadeira carnificina. Grandes pedaços de carne vermelha com uma capa branca de gordura, tripas estufadas com carne moída, e pentes de costela serrados ao meio, parecendo um moquém tupinambá. Uma caipirinha pra começar, e várias cartucheiras de cerveja depois às cinco da tarde não lembro mais o que aconteceu. Lá pelas sete desabei e fui acordar doze horas depois, pus a roupa de esportes, e esperando um dia como o de ontem, me besuntei de protetor solar. Estava encoberto e ventoso, com fortes rajadas vindo de algum lugar entre o norte e o oeste, e fui à raia sabendo que estaria ruim pra remar. Por outro lado, esse vento costuma limpar o tempo rapidamente. Realmente as condições estavam péssimas, com as ondinhas começando a quebrar, e quase ninguém na água. Encontrei um disposto a sair no double, já que single sambaria demais naquela água. A raia é orientada no sentido noroeste-sudeste, e o vento de sul, que traz as frentes frias, é o que predomina na cidade. Conversando sobre isso depois do treino, com o tempo já limpo, localizei o norte no horizonte da cidade, o pico do Jaraguá. Quando o vento vem dessa direção, os aviões aterrisam em Congonhas vindo do sul, e deixam a zona oeste livre da sua aproximação.

quarta-feira, agosto 23, 2006

Chegando perto


Hellhound On My Trail
by Robert Johnson

I got to keep moving, I got to keep moving
Blues falling down like hail, blues falling down like hail
Mmm, blues falling down like hail, blues falling down like hail
And the day keeps on remindin' me, there's a hellhound on my trail
Hellhound on my trail, hellhound on my trail

If today was Christmas eve, if today was Christmas eve
And tomorrow was Christmas day
If today was Christmas eve and tomorrow was Christmas day
All I would need is my little sweet rider
Just to pass the time away, to pass the time away

You sprinkled hot foot powder, mmm, around my door
All around my door
You sprinkled hot foot powder, all around your daddy's door
It keeps me with ramblin' mind rider
Every old place I go, every old place I go

I can tell the wind is risin', the leaves tremblin' on the tree
Tremblin' on the tree
I can tell the wind is risin', leaves tremblin' on the tree
All I need is my little sweet woman
And to keep my company, hey, hey, hey, hey, my company

segunda-feira, agosto 21, 2006

Roubadas

Neste fim-de-semana, especialmente largado, assisti a um pedaço do “Saia Justa”, as moças comentando um fenômeno da internet, em particular do orkut, que é o reencontro de antigos amores, com várias entrevistas-relâmpago com pessoas na rua, algumas dizendo que o encontro provocava um frio na barriga, outras que preferiam “mudar de calçada”. A Maitê Proença contou um caso complicado, de um namorado da adolescência, que depois de um bom tempo de correspondência ótima que despertou nela uma expectativa grande, resolveram se encontrar, e ela fez vir o sujeito do exterior, baseada numa foto que depois ela qualificou de mentirosa. Quando chegou era um sujeito com problemas de postura, visivelmente “alquebrado pela vida” como ela disse, ou algo assim, que frustrou completamente suas ilusões. Sem graça de despachá-lo prontamente, tentou ajudá-lo levando-o a um terapeuta alternativo e ao candomblé, e se livrou dele assim que pôde. Se um atriz famosa por sua beleza cai nas armadilhas da rede, o que será dos comuns? Nos relacionamentos iniciados ou reiniciados na internet há uma inversão da ordem natural das coisas, parecida com a artificialidade das agências de casamento, ou qualquer forma de encontros arranjados. Não que eu ache que a ordem natural das coisas não possa ser mudada, mas tradicionalmente os relacionamentos se iniciam pela atração física, imediata e palpável, geralmente em uma situação em que alguma identificação social foi rapidamente constatada. Pela internet o ataque pode começar por dentro do cérebro, pelo tatear das fantasias, o que, aliado a uma foto mentirosa, pode dar excelentes resultados, especialmente por estar a outra parte sentindo-se protegida e disposta a expor-se mais na conversa, revelando informações importantes ao manipulador. Aumentam as probabilidades de conhecer mais gente, na mesma proporção em que aumentam as probabilidades de roubada, vindas do passado e do presente.

quinta-feira, agosto 17, 2006

Trans

Conforme o tempo vai passando a ciência vai identificando os piores venenos que consumimos, voluntariamente ou não, e vamos nos defendendo como dá. O DDT, o mercúrio, o chumbo, o amianto, os aerossóis, aquele gás das geladeiras, foram tanto quanto possível eliminados do nosso contato, outros com os quais o contato é ainda inevitável, como o monóxido de carbono e o tabaco estão sendo também combatidos. Isso pra falar das mais óbvias. A grande vilã do momento é a gordura trans, que nada mais é do que um tipo de gordura hidrogenada, a que é produzida pela indústria, e ao que parece o lobby da indústria alimentícia não conseguiu mais esconder a sua extrema nocividade ao consumo humano. Segundo a Anvisa, toda a gordura hidrogenada produzida pela indústria é trans, que tem a função de tornar sólida a gordura e prolongar a durabilidade dos alimentos, ou seja, a base da fabricação e distribuição de alimentos industrializados.. E não se deve consumir mais que duas gramas de gordura trans por dia. Numa Veja recente se diz que uma batatinha do McDonalds tem dez vezes a quantidade tolerável. O fato é que sobre a gordura trans se construiu toda a indústria alimentícia atual. E a impressão que eu tenho é que houve um gigantesco erro histórico na solução para alimentação das massas. Todo o investimento que foi feito no desenvolvimento da indústria alimentícia, que transforma mares de soja em todo tipo de guloseima envenenada, deveria ter sido canalizado para o abastecimento de produtos frescos, como quitandas, açougues, peixarias e padarias, e não em nestlés e carrefours. Depois da indústria do tabaco, acho que a guerra agora será contra a indústria alimentícia, que está se mostrando tão perigosa para a saúde como o cigarro. Isso sem falar na farmacêutica.

segunda-feira, agosto 14, 2006

Filme de terror

Vi o Munique ontem, o filme do Spielberg sobre o atentado contra a delegação israelense da olimpíada de 1972, e os seus acontecimentos posteriores. É um filme corrido, difícil de acompanhar, que demanda atenção como aqueles filmes antigos de espionagem, e em que a história é contada aos saltos, dando a impressão que é de propósito, e que só adultos inteligentes e concentrados vão se divertir com aquilo, como se estivessem sendo exigidos como espiões. A diferença é que ao contrário dos filmes de guerra-fria, quase comédias de ação, contém discussões éticas sérias mesmo. E ao contrário de outros filmes, sérios ou não, do Spielberg, neste ele controlou sua tendência ao pieguismo muito bem. Na edição do DVD – ainda com a etiqueta de lançamento - há uma introdução com ele falando sobre o filme, que pode muito bem ser vista depois, em que defende o seu esforço de imparcialidade. O filme é atual como nunca, mostrando que a guerra de guerrilha pode ser, e geralmente é, patrocinada pelos Estados e não brotada de movimentos populares, ou seja, os Estados são secretamente terroristas. Perdidas as causas históricas remotas, todos têm boas razões mais ou menos equivalentes, ou pelo menos sustentáveis, para lutar. O duro é distingüir o que é útil, necessário e eficiente do simples derramamento de sangue. Mais do que nunca, é de pensar-se nos aforismos dos advogados, frutos da experiência e do senso comum, do tipo “é melhor um mau acordo do que uma boa demanda”, “tolo é o advogado que tem a si próprio como cliente”, “o bom acordo é o que deixa as duas partes insatisfeitas”, todos dizendo que os envolvidos nunca têm a serenidade necessária para solucionar seus próprios conflitos.

sexta-feira, agosto 11, 2006

Júlio de Mesquita


Em bronze, com um tiro na testa, olhando o lugar aonde ficava o seu jornal.

quarta-feira, agosto 09, 2006

Santos F. C.

segunda-feira, agosto 07, 2006

Auto-atrapalhação


Foi-se ou não o tempo em que a palavra era definitiva? Para o bem e para o mal, frente aos outros ou pior, a si mesmo. As auto-promessas de dieta, abandonar vícios e outras fixações, parecem ser feitas para serem quebradas. O promitente sabe racionalmente o que é melhor para ele mas uma força superior lhe tolhe a vontade, proporcionando o prazer rápido de um chocolate e uma mais persistente sensação de fraqueza e derrota. Nesta despretensiosa reflexão amadora, eu poderia fazer uma primeira divisão entre as compulsões ativas, de fazer, e as passivas, de não-fazer, se é que podem ser chamadas assim. Destruir um pacote de bolachas doces seria uma compulsão ativa, e faltar à sessão da academia, passiva. Pode-se inverter o sinal, e ver-se o oposto. Não conseguir deixar de atacar a geladeira, ou seja não impedir-se de violar a regra auto-imposta, deixar a vontade baixa escapar do controle pode ser vista como passiva, assim como optar por ir à sorveteria ao invés da academia pode ser vista como ativa. É possível enxergar-se a questão assim, como vetores equivalentes, mas me parece uma certa forçação de barra. Fazer o que não devo e não fazer o que devo pra mim é claro e palpável. Então a luta é para não fazer o que não devo e fazer o que devo. Ambas as posições tratam do dever auto-imposto, mas há uma diferença grande entre elas. A compulsão que supera a vontade é muito mais difícil de ser tolhida do que obter a motivação pra fazer o que se deve, ou executar-se os planos de progresso. Digo isso por experiência própria. Bom é quando a compulsão nos leva para onde queremos ir.

quinta-feira, agosto 03, 2006


Em nova versão gentilmente melhorada por a.
Da minha sala de trabalho, por um bisavô diletante

Demoro pra aprender certas coisas. Há muito tempo que eu sei e reflito sobre o assunto, que numa negociação qualquer, seja um negócio, uma briga familiar, ou mesmo pegar um cavalo no pasto, é necessário deixar espaço para que o interlocutor dê todas as voltas que quiser para aceitar a proposta ou oferecer uma contraproposta, sem confronto. Cercar todas as saídas antes da hora, acuando, é a melhor maneira de perder o negócio. Volta e meia, ansioso, ainda faço isso. Mesmo sabendo que negócio e baile funk tem todo dia.

quarta-feira, agosto 02, 2006

Fogo


Até tirei uma foto do fogo na lareira ontem à noite, minha modesta contribuição para o aquecimento do planeta, a família reunida depois da dispersão das férias, incluindo os apêndices mais freqüentes, a sogra e o namorado da filha mais velha. Aproveitei para queimar uns arquivos secretos, que devem ter produzido uma boa quantidade de gases tóxicos.

terça-feira, agosto 01, 2006

E as vicunhas?


São camelos selvagens que pastam pedras.