
Com o risco de inventar a roda, chover no molhado, usar os mais surrados clichês, resolvi salvar o mundo, por estar um pouco entediado. Parto do princípio de que o mundo não precisa ser salvo. A vida neste planeta, como tudo, é transitória, e mais bilhão de anos, menos bilhão de anos, um dia acabará. Como um vaso, hoje está em boas condições de luz e temperatura, com bastante água, o que não durará para sempre. Deixo pra lá a questão da possibilidade de migração para outras galáxias, necessidade ainda um pouco distante, pra me concentrar no que eu entendo ser o cerne da questão: a vida dos humanos. Simplificando ao simplório, o objetivo dos viventes é viver e reproduzir-se o máximo possível, movidos por um instinto de auto preservação e de preservação da espécie, uma força interna superior e incompreensível. Acho que não é necessário saber, ou melhor, ter como ponto de partida, mais que isso. A raça humana expandiu-se e dominou todas as extensões de terra firme que cobrem este planeta, não importando quão inóspitas, áridas, quentes, geladas, inundadas, íngremes, pedregosas pudessem ser, e conseguindo, bem ou mal, delas tirar o seu sustento. A capacidade de adaptação é apuradíssima, e uma das razões do sucesso dessa espécie visivelmente dominante. Somos uma espécie gregária, que gosta de viver em grupos tão grandes quanto as condições permitirem, e desde que preservada a nossa individualidade, o que é uma das nossas maiores e melhores contradições. Outro ponto aparentemente importante é o isolamento geográfico, decantado por Darwin. Por termos nos espalhado por todo o globo desde priscas eras, o isolamento e a adaptação acabaram por consolidar diferenças externas, físicas, e internas, culturais, entre os grupos. A contradição gregário/individualista, as diferenças físicas e culturais, aliados à competitividade natural na luta pela prosperidade e reprodução, criaram o cenário permanente da luta entre os grupos, e dentro dos grupos. A velha história dos círculos concêntricos de amizade e inimizade. Sou aliado do meu irmão contra o meu primo, sou aliado do meu primo contra o meu vizinho, sou aliado do meu vizinho contra o estrangeiro. Esse quadro, temperado com complexos freios culturais de religião, justiça e ética, nos trouxe até onde estamos. E para onde vamos? Infelizmente continua.