Faca coqueiro
Jaime Caetano Braum
Cabo de madeira branca
E a folha de palmo e meio,
Esta faca que palmeio
Sovando uma palha buena
Larga, assim como novena
Nas festanças do Divino
Foi presente do Galdino
Filho de Dona Pequena!
Na prancha meio azulada
Deste regalo campeiro
Está gravado um coqueiro
Assim como um distintivo
Que me faz lembrar, altivo,
O charrua melenudo.
Bombeando longe, sisudo,
O velho solo nativo!
É nesse ferro crioulo
Que o meu fôlego embacia,
A cancha reta bravia
Por onde o fumo se espalha,
Com ele eu ajeito a palha,
Longueio, e, aparo crina,
E a barba, pra ver a china
Quando não tenho navalha!
Quando corto meu churrasco
Deixo branqueando o espeto,
E se na encrenca dos meio
Não sobre garrafa inteiro
Pois este ferro campeiro
De ponta como de prancha
Tem mania de abrir cancha
No costilhar do parceiro!
Por isso é que ao te palmear,
Sovando a palha de milho
Eu sinto, ó rude utensílio
Que muito primeiro que eu
O guasca já te benzeu
Quando num berro de touro,
Junto ao "bendito"de couro
Nalgum rival te embebeu!
E ao te arrancar da bainha
De ponteira reforçada
Evoco a rudez passada,
De teu áspero trajeto
Quando o xiru analfabeto
Contigo de companheira
Nas andanças da fronteira
Lonqueava o nosso dialeto!
Traste mil vezes relíquia
Por ser presente de amigo:
Hei de levar-te comigo
Sempre ao alcance do braço
E acolherar no teu aço
O presente e o passado
Até que pranche enredado
Por algum "seio de laço"!
E fica certo, Galdino
Ao te agradecer de novo,
Que no singelo retovo
Do meu gauderiar sem norte
Esta faca enquanto corte,
Até os últimos momentos,
Há de estar lonqueando os tento
Da nossa amizade forte!
(Cortes, J. C. Paixão. "Gaúchos de faca na bota ".)
Galdino, te devo uma moeda.